Constituição vai além

O tema da Campanha promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) de 2008 é: Fraternidade e defesa da vida. O artigo 5.º da Constituição Federal vai além: garante a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Ambas, Campanha da Fraternidade e Constituição têm boas intenções e sugerem reflexões. Entretanto, não conseguem transformar esses conceitos em valores culturais harmonizados com políticas educacionais e sociais.

Política é escolher prioridades em concordância com necessidades das pessoas, famílias e sociedade.

Nem a Igreja, nem o Estado têm projetos eficazes de comunicação para essa área. Cada vez mais, estão fechados sobre si mesmos, indiferentes à vida que amanhã espera o novo ser que vai nascer, ou viver e morrer dignamente. Infelizmente, não acredito que as reflexões e contextualizações da CNBB sobre o tema da Campanha deste ano alcancem algum resultado positivo imediato.

Embora detenham poderes privilegiados para formação de juízos críticos, bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas não estão facilitando a unidade entre a Trindade e a humanidade. Por falta de preparo, não conseguem mostrar às crianças, jovens e adultos diferenças entre o que é verdadeiro e falso, o direito e o dever, o bem e o mal, as situações que angustiam a consciência e as ações que confortam a alma.

Existe na sociedade e em certas instituições vinculadas à Igreja muita maldade, competição e desavenças, a maioria das vezes originadas por interesses. Mais ainda, está na hora de a Igreja remover certos tabus e promover de fato o diálogo entre ciência, fé, amor, direito, justiça e transcendência. Ninguém está subestimando conhecimentos, tradições, dogmas e valores. Mas é preciso avançar.

Como sugestão, a Igreja precisa dar um salto e se esforçar mais para organizar melhor a área das comunicações. Ninguém pode ser tímido e andar devagar nessa direção. Hoje, boa parte das celebrações, missas e homilias necessitam, literalmente, ser revitalizadas. Não estou propondo agrados em termos de brilho, cores e sons. Não basta pregar bondade, justiça e caridade. O povo enxerga longe. Ações, exemplos e pregações da Igreja não estão conseguindo converter corações e facilitar o encontro de sentimentos de amor, muito menos acelerar a marcha de humanização do progresso técnico e científico, viabilizar as responsabilidades do Estado, apontar caminhos para a consolidação da solidariedade local e mundial.

Pedro Antônio Bernardi é jornalista, economista e professor, assessor e consultor de comunicação, autor do livro ?Palavra amiga?.

Voltar ao topo