Consenso pelo fracasso

Começa hoje em Hong Kong, na China, a reunião de ministros dos 148 países ligados à Organização Mundial do Comércio (OMC), com o objetivo primordial de levar a bom termo a Rodada de Doha pela liberalização do comércio internacional de produtos agrícolas, manufaturados e serviços.

A expectativa em torno do encontro é muito grande, à vista da impressão generalizada de que mais um fracasso se aproxima, repetindo Seattle (1999) e Cancun (2003), quando os avanços pretendidos – os mesmos ainda em discussão – foram adiados.

O temor de alguns círculos do comércio internacional é que se a Rodada de Doha (2001) não for confirmada agora, as coisas voltarão à estaca zero, de vez que em 2007 esgota-se o prazo dado pelo Congresso norte-americano ao presidente George W. Bush para negociar acordos comerciais.

Na verdade, o fato mais deplorável é a predominância do que a linguagem diplomática chama de ?consenso pelo fracasso?, justo no momento de legitimação do pleito apresentado pelos países em desenvolvimento, ou seja, a construção de plataforma compensadora para o comércio mundial.

Discute-se o risco da perda dos avanços já conquistados, tendo em vista a pressão exercida pelo setor agrícola – 3% da produção global – e o provável entrave à normalização pretendida no encontro de Hong Kong.

Os Estados Unidos e a União Européia, os dois blocos hegemônicos da economia mundial, continuam com posições inflexíveis em defesa de seus interesses majoritários. Nenhuma indicação há quanto à dispensa de quaisquer das vantagens que asseguram o bem-estar de suas populações.

Brasil e Índia, países líderes do G-20, reivindicam tratamento mais igualitário para os emergentes diminuírem os índices internos de pobreza, identificando na redução das taxas alfandegárias de importação e dos subsídios à produção agrícola exportável os elementos essenciais para o desenvolvimento econômico dos países competidores.

As negociações de Hong Kong devem se estender até o final da semana e o produto final desperta a ansiedade em todos os quadrantes.

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