O Conselho de Ética reagiu ao calendário definido pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), para o julgamento do pedido de cassação do deputado José Dirceu (PT-SP). O presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), decidiu inverter a ordem de votação dos pedidos de cassação. Com isso, o caso de Dirceu pode ser votado sexta-feira no conselho e ficará pronto para ir ao plenário da Câmara na próxima semana.
Isso só será possível porque Izar resolveu transferir de amanhã para a semana que vem o julgamento do processo de Romeu Queiroz (PTB-MG). A iniciativa anula o argumento de Aldo para deixar para o dia 23 a votação do processo contra Dirceu, que antes estava marcado para quarta-feira. Aldo queria seguir a ordem de saída dos processos no conselho. Dessa forma, antes do caso de Dirceu, ficariam os de Sandro Mabel (PL-GO) e Romeu Queiroz.
Alegando problemas de saúde, Queiroz pediu adiamento da votação de seu processo para a próxima semana, o que foi atendido por Izar. "Ele foi fazer alguns exames em Belo Horizonte e não pude notificá-lo. Ele está estressado", disse Izar, afirmando ainda que marcará a votação do processo do petebista para segunda ou terça-feira.
Com críticas à decisão de Aldo, integrantes do conselho e líderes de partidos de oposição montaram um esquema especial para garantir quórum para a realização da sessão de amanhã do plenário da Câmara, condição fundamental para a conclusão do processo de Dirceu sexta no colegiado. "Ele (Aldo) errou. Estamos fazendo um esforço para cumprir os prazos regimentais e é incompreensível que marque a votação do processo de Dirceu para dia 23", reclamou Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).
O relator do processo de cassação de Dirceu, Júlio Delgado (PSB-MG), avaliou que a decisão de Aldo dá margem para mais ações judiciais e manobras protelatórias da defesa. "Aldo se precipitou ao adiar a data. Nada impede marcar mais de uma sessão para os processos na próxima semana." Para o relator, o presidente da Câmara trabalha com a prorrogação do prazo de conclusão dos processos em 45 dias, que só foi pedida em caráter preventivo.
Izar manteve a votação do pedido de cassação de Dirceu para sexta cedo no conselho e vai falar amanhã com o presidente da Câmara sobre a possibilidade de concluir o julgamento na próxima semana. "Vou conversar com Aldo com tranqüilidade. Há condições de votar o processo de Dirceu no plenário quarta-feira", disse.
Para que essa inversão seja possível, no entanto, é necessário que hoje 52 deputados estejam na Câmara para a sessão. O líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), considera que o anúncio de Aldo sobre a alteração da data pode prejudicar a obtenção do quórum para a sessão. "Aldo errou ao mudar a data. É útil que a Câmara encerre esse assunto na próxima semana", avaliou.
PFL e PSDB devem contribuir com pelo menos 40 deputados na Câmara amanhã para a sessão e os 15 titulares do conselho foram convocados para estar em Brasília. Delgado contatou pelo menos 15 deputados, confirmando sua presença em Brasília. "Está na hora de o conselho resolver essa questão, que está virando uma novela cansativa", argumentou o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), ressaltando a necessidade de o conselho votar o processo de Dirceu na sexta-feira.