Congresso paraguaio pode suspender estado de exceção

Assunção, 16 (AE) – O Congresso Nacional poderá suspender amanhã (17) o estado de exceção decretado na segunda-feira pelo Executivo para reprimir uma onda de violentos protestos em vários pontos do país contra o presidente Luís González Macchi, do Partido Colorado.

O próprio presidente admitiu a suspensão antecipada da medida que, em princípio, deveria vigorar até sexta-feira, com a possibilidade de ser prorrogada pelo prazo de 60 dias.

Duas pessoas morreram e pelo menos 59 ficaram feridas, nos confrontos de rua, quando a polícia respondeu com jatos de água, bombas de gás e balas de borracha aos ataques dos manifestantes. Houve também 239 prisões.

Hoje, a capital amanheceu calma, sob a guarda de soldados do Exército e da Polícia Nacional, que patrulham os arredores do palácio presidencial e dos prédios da Câmara e do Senado.

Durante o dia ocorreram choques esporádicos que foram controlados pelas forças de segurança no interior do país. No Departamento (Estado) de Caaguazú, leste do Paraguai, três manifestantes ficaram feridos quando a polícia desbloqueou uma estrada. Houve também pequenas manifestações nos Departamentos de San Pedro e Alto Paraná, na região centro-sul.

Quarenta e sete paraguaios, que entraram hoje na Argentina por uma ponte que une a cidade paraguaia de Encarnación à de Posadas  pediram para ficar temporariamente no país para proteger-se.

Essas pessoas faziam parte de um grupo de aproximadamente 200 manifestantes que mantinha bloqueada desde segunda-feira a ponte San Roque González de Santa Cruz, que liga o Paraguai à Argentina. Elas passaram para o lado argentino hoje ao amanhecer  quando policiais dispersaram o protesto.

Apesar das críticas ao presidente González Macchi, que seus opositores acusam de corrupção e incompetência, o grande vilão da crise é o ex-general Lino Oviedo, que se refugiou na Argentina e posteriormente fugiu para o Brasil, depois de ser condenado a 10 anos de prisão no Paraguai por uma frustrada tentativa de golpe.

Muita gente acredita que o ex-general esteja por trás dos protestos e da violência, mas não se espera que ele tente voltar ao país. O objetivo de Oviedo seria derrubar González Macchi para que o vice-presidente Julio Cesar Franco assumisse o governo.

Franco, também conhecido pelo apelido de Yoyito, poderia nesse caso decretar uma anistia que permitisse a Oviedo voltar a Assunção para que ele, sem o risco de ser preso, concorresse às eleições presidenciais no próximo ano.

Hipótese possível, mas remota, pois Franco, do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), braço dissidente do Partido Liberal, também pretente candidatar-se à presidência.

Oviedo concorreria pela União Nacional dos Cidadãos Éticos (Unace), movimento que ele fundou quando deixou a União Nacional dos Colorados Éticos – dissidente do Partido Colorado, no poder há mais de 70 anos.

A notícia de que o governo brasileiro anunciou que interpelaria Oviedo sobre sua eventual participação, ainda que indireta, nos distúrbios que abalaram o Paraguai nos últimos dias repercutiu positivamente na imprensa.

Ninguém esperava que o ex-general confirmasse seu envolvimento  mas seus adversários já se deram por satisfeitos pelo fato de ele ser obrigado a se explicar.

Suspeita-se em Assunção que Oviedo tenha entrado clandestinamente em território paraguaio depois de ter sido libertado no Brasil, para contatos esporádicos com seus partidários.

Apesar de ter sido condenado pela tentativa de golpe em 1996 e de ser acusado de ser o mentor intelectual do assassinato do vice-presidente José María Argaña, em 1999, Oviedo mantém uma imagem popular no país, especialmente no campo.

Bom orador, ele fala fluentemente a língua guarani, que parte da elite rejeita, mas ainda é usada pela maioria dos 5,8 milhões de habitantes do país. O guarani é ensinado nas escolas, paralelamente ao espanhol.

A oposição a González Macchi explica-se pelas dificuldades econômicas que o Paraguai vem atravessando. ?Estamos passando fome, no campo e nas cidades, porque os salários são muito baixos?, queixa-se Florentín Osório, filiado ao Partido Colorado, mas crítico impiedoso dos dirigentes que, em sua opinião, aproveitam-se de sua posição para roubar o dinheiro do povo.

A Câmara Nacional de Salários rejeitou, segunda-feira, uma reivindicação dos sindicatos que pediam aumento de 25% no salário mínimo, que equivale a 130 dólares (cerca de 370 reais).

O estado de exceção proíbe manifestações políticas, mas não reuniões sociais, esportivas e culturais. Contudo, comentaristas de rádio pareciam aliviados hoje pelo fato de o time de futebol Olímpia estar jogando hoje em Porto Alegre, onde disputa com o Grêmio a classificação para a final da Libertadores da América deste ano.

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