Círculo de mediocridade

Com a chegada de mais uma campanha para eleger o presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e estaduais nos 27 estados da federação, quando quase tudo fica em compasso de espera, nenhum avanço importante será realizado até o final do ano em termos do fortalecimento dos meios vitais do sistema político-econômico nacional. Portanto, mais um período de governo se aproxima do fim sem que as já requentadas reformas política, fiscal e das relações de trabalho, não por acaso as mais urgentes, tenham sido sequer aprofundadas.

Por se tratar duma obviedade na campanha dos candidatos à Presidência, certamente a sociedade ouvirá pela enésima vez desde a redemocratização compromissos candentes em defesa dessas e de outras reformas necessárias, além das indefectíveis promessas quanto ao grau de prioridade que as mesmas terão na hiperbólica gestão que cada um pretende implantar, caso eleito.

Os candidatos com maior probabilidade de vencer a eleição, Lula e Alckmin, que têm visões divergentes sobre como fazer as coisas, pelo menos num ponto estão afinados: o crescimento da economia brasileira, que nos últimos anos registrou índices inferiores à taxa média do crescimento internacional. No triênio 2003-2005 o PIB mundial cresceu em torno de 5% ao ano, apresentando evolução estimada de 14,9%, ao passo que no mesmo período o crescimento do PIB brasileiro foi de 7,8%, com a média anual de 2,9%.

O cenário foi examinado pelo economista Alberto Furuguem, especialista em macroeconomia, em artigo publicado na edição de junho da revista Conjuntura Econômica, da Fundação Getúlio Vargas, no qual afirma que ?o crescimento da economia brasileira este ano está vindo, ainda, em boa parte de fora, via exportações e, em parte, do aumento dos gastos públicos em ano eleitoral?. O economista assegura que o crescimento da economia não é resultado do nosso ?preparo? para o desenvolvimento sustentável, outro ingrediente básico do discurso político e, pior, está sujeito a sofrer sérios contratempos com a possível queda dos preços internacionais dos produtos que exportamos, com a valorização do real atuando contra nossa competitividade em comércio exterior.

Uma amostra de que não será fácil a vida do futuro presidente é tirada pela política de aumentos reais do salário mínimo, ?fator preponderante para explicar o crescimento do déficit do sistema previdenciário?, além da pressão exercida sobre os caixas da União, estados e municípios, com a redução drástica da capacidade de investimento nos três níveis de governo. Dessa forma, o analista aponta na mera medida assistencialista que, com efeito, pouco tem contribuído para mudar a realidade das famílias mais pobres, uma preocupação fundamental e onerosa: ?Por falta de recursos, muitos investimentos públicos estratégicos poderão deixar de ser realizados na infra-estrutura econômica e social?.

O rompimento do ?círculo vicioso da mediocridade?, segundo o economista, dar-se-ia com a aceleração da redução dos juros básicos, eliminação de impostos ineficientes, aumento de investimentos estratégicos em educação básica, saneamento, segurança pública, geração de energia e infra-estrutura rodoviária, redução dos compulsórios sobre depósitos bancários, corte de barreiras tarifárias e taxa de câmbio em patamar condizente com a estratégia de desenvolvimento, entre outras ações indutoras do crescimento sustentado. Como se observa, uma tarefa para estadista.

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