Cheque sustado

Personagem egresso dos porões obscurantistas do baixo clero nos estertores da permanência de Fernando Collor na presidência, o deputado fluminense Roberto Jefferson, hoje presidente nacional do PTB, volta à cena da forma mais abjeta possível: acossado por uma série de acusações da prática de corrupção.

O ex-diretor da ECT falou das orientações recebidas do presidente do PTB no sentido do encaminhamento dos grandes fornecimentos exigidos pela estatal, ou seja, conduzindo as licitações na direção do que há algum tempo se identificava, sem o menor pudor, como taxa da felicidade.

Neste final de semana, a revista Veja transcreveu parte da gravação de um diálogo do ex-presidente do Instituto Brasileiro de Resseguros (IRB) com um de seus jornalistas, admitindo o pagamento de um pedágio de R$ 400 mil mensais para despesas realizadas pelo diretório nacional do PTB. O ex-presidente, que se demitiu, havia sido nomeado graças ao bom trânsito de Jefferson no governo Lula.

E surgiu também um fidelíssimo amigo de Jefferson, dono de sorveteria falida em Cabo Frio, afirmando ter recebido de presente duas emissoras de rádio no interior do Estado do Rio. Presentes de Jefferson, é claro.

Sempre gravitando em torno do poder, esse político viu-se jogado às traças quando Itamar Franco exerceu a chefia do governo. Mais tarde, sempre obsequioso, foi contado entre os inúmeros serviçais interessados em exibir diligência, pelo governo FHC. No bojo da aliança política de 2002, o deputado viu a estrela refulgir, especialmente com a morte de José Carlos Martinez, a quem substituiu na presidência do partido.

Assim, nomear políticos fracassados, apadrinhados e cabos eleitorais para cargos estratégicos na estrutura do serviço público tornou-se expediente corriqueiro na agenda do presidente do PTB, não apenas para fortalecer a posição pessoal no troca-troca de favores em Brasília, mas a de líder supremo do grotesco arremedo do antigo trabalhismo.

Esse é o personagem brindado pelo presidente da República com a desmesurada concessão de um cheque em branco. A essa altura, provavelmente, sustado.

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