Chega de satanização!

Tentam satanizar o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, atribuindo-lhe o poder de cuspir fogo e ser capaz de incendiar o País, se eleito. Os temores ajudam a estremecer o mercado financeiro aqui e lá fora e, somados a efetivas fragilidades da economia brasileira, levam a um risco-Brasil estratosférico. Como conseqüência, escasseiam recursos, aumentam os saques de aplicações. O dólar bateu o seu recorde em relação ao real, não respeitando nem o oitavo aniversário da nossa moeda, e a Bolsa de Valores acusou prejuízos expressivos. Para provar que não é satã e não há porque temer um seu possível futuro governo, Lula declarou respeito aos compromissos assumidos pelo Brasil e prometeu, se eleito, manter o necessário superávit, o câmbio flexível e outras condições que a atual equipe econômica considera indispensáveis à saúde econômico-financeira do Brasil. A cada afirmação de compromisso que lhe valem indulgências e perdão dos pecados originais, Lula repica com alguma xingação ao atual governo, a alguma de suas autoridades e até mesmo a representantes da alta cúpula do Judiciário, como o ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o ministro do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim. Não perdoa o presidente FHC, o candidato situacionista José Serra, o ministro Malan e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga. A todos satanizava, enquanto recebe, no mínimo, o benefício da dúvida, senão significativa ablução.

Um episódio recente demonstra que está na hora de acabar com a satanização de parte a parte, para acalmar o mercado e impedir que do contencioso eleitoral resulte um candidato vitorioso, mas um país perdedor, em difíceis condições para recuperação econômica. Armínio Fraga foi aos Estados Unidos e Europa e, em diversos encontros, disse que os candidatos à Presidência do Brasil são confiáveis e de todos é de se esperar políticas sãs, merecedoras de apoio do mercado e do Fundo Monetário Internacional. Fernando Henrique Cardoso tem dito isto à exaustão e Malan o secunda, apenas recomendando que os candidatos sejam mais claros em seus posicionamentos. Dias atrás, Lula atacou o ministro do STF, Nelson Jobim, pregando inclusive que ele deveria desincompatibilizar-se do cargo de presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Jobim é amigo de Serra. Por isso, estava sendo crucificado. Pois o magistrado acaba de tomar uma decisão surpreendente, pelo menos para a oposição. Recebendo pedido da Procuradoria Geral da República para investigar o deputado federal José Dirceu, presidente nacional do PT, acusado verbalmente pelo irmão do prefeito petista assassinado Celso Daniel de receber dinheiro de extorsão que estaria sendo praticada na Prefeitura de Santo André, mandou arquivar a denúncia. Considerou-a não fundamentada, sem provas, na base do disse-me-disse e que não é hora de “denuncismo”.

Esse episódio, e outros a que temos assistido, demonstra que é hora de acabar com a demonização de Lula, mas que este também precisa parar de satanizar os seus opositores, inclusive o governo. Que situação e oposição continuem se desentendendo, mas que restrinjam o debate ao campo das idéias, abandonando os denuncismo e as desconfianças infundadas. Isso se faz urgente para que do bate-boca irresponsável que temos assistido não vazem suspeitas infundadas que podem ajudar a algum candidato e prejudicar a outro. Mas que, também, colocarão o Brasil em maus lençóis, talvez até em uma situação insustentável.

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