Chega de autoflagelação

À míngua, a sétima edição do Festival de Cinema, Vídeo e DCine arrisca não se concretizar. O Festival Internacional de Londrina (Filo), que começou ontem, descartou doze companhias e ainda perdeu o charme do Cabaré Filo. Parece que está mais do que na hora de artistas, empresários e produtores culturais paranaenses se mobilizarem para depender menos dos tortuosos caminhos das finanças públicas, e criar uma demanda sustentável para os seus produtos culturais.

Mas, para isso, é necessária uma penosa mudança de comportamento do próprio público do Paraná. Mirarmo-nos nos exemplos de gaúchos, cariocas, mineiros, nordestinos e amazonenses, e aprendermos a interpretar, apreciar e a consumir a arte gerada em nossas entranhas. Não se trata de um bairrismo tacanho, ou de um paranismo sectário e debilóide, mas de prestar atenção e analisar criticamente se o Paraná tem mesmo talento. E, se tiver, consumir e divulgar, sem vergonha.

Deixarmos de ser autofágicos. Abandonarmos o vício de ir ao teatro só para ver os globais ao vivo (“Nossa, como o Paulo Autran está acabado”), ou no meio do oba-oba do Festival de Teatro de Curitiba. Para não pagar o mico que eu mesmo paguei este ano, ao ver colegas jornalistas de todo o Brasil derramando-se em elogios para Volta ao Dia…, espetáculo paranaense do Fringe, que não me dei ao trabalho de ver na sua temporada na cidade.

Falando em jornalistas, temos que parar com essa mania de distribuir bordoada, ficar escarafunchando qualquer iniciativa atrás de falhas, dificuldades, equívocos. Informar custos, denunciar irregularidades, revelar práticas suspeitas e problemas de infra-estrutura, tudo isso é nosso dever. Mas também não podemos perder de vista a qualidade artística e a relevância sociocultural de tais eventos, bem como a sua importância na consolidação de uma cena e de uma estética paranaenses.

Outro exemplo dessa nossa autoflagelação no campo das artes aconteceu no recente Curitiba Pop Festival. Com raras exceções, a imprensa local (e não me excluo) se dedicou a espinafrar o evento, o dinheiro consumido, o auê em torno das bandas internacionais, a eterna ladainha da acústica da Ópera de Arame, etc. e tal. Tomado pela provinciana e corrosiva autocrítica que nos é peculiar, fui pedir a opinião do jornalista e ex-VJ da MTV Fábio Massari, um verdadeiro oráculo em música pop/alternativa.

Sua resposta foi desconcertante: “Está muito legal, boas bandas, público interessante…”. Percebendo minha perplexidade, prosseguiu: “Tenho ouvido falar dos problemas, da ausência de cachê para a maioria das bandas, da acústica… mas o que eu mais gostei foi mesmo o lugar. Essa Ópera de Arame é o máximo! Já cansei de ir a festivais de música, e a maioria esmagadora, no mundo inteiro, não chega nem perto dessa estrutura”.

E a acústica, e a queda de energia no show da Nação Zumbi? “Ah, num festival de música independente ninguém está muito acostumado a tocar com uma aparelhagem e uma acústica top de linha mesmo…” Em tempo: sem cachê, com muita garra, as bandas da casa arrasaram no Curitiba Pop – principalmente o ESS (que caiu nas graças do mesmo Massari), os tonitruantes Catalépticos e os mods do Faichecleres. Olhos e ouvidos neles!

Luigi Poniwass

(luigi@pron.com.br) é editor do Almanaque.

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