Chavização do Brasil

A última pesquisa eleitoral, que mostra Lula à frente de Serra ou Alckmin no primeiro e segundo turnos, não é uma surpresa, mas a indicação de que a oposição está caminhando torto por linhas tortas. Uma análise do universo de consultados mostra que as vantagens conquistadas pelo atual presidente e candidato à reeleição resultam basicamente das declarações de preferência das camadas de menor renda. Em especial do Nordeste, região de onde veio, como pau-de-arara, o próprio presidente.

Há também crescimento de Lula em setores das camadas mais altas, mas isto não justifica a ascensão de quem, desde que assumiu o poder, mostrou-se jejuno em matéria de administração pública, adotou o modelo econômico de seu antecessor, apesar de sempre tê-lo abominado, e aceitou com aplausos e até confetes os investimentos externos e a tutela do Fundo Monetário Internacional. Pior ainda: esteve e está envolto, para não afirmar envolvido, num rumoroso e generalizado escândalo político e moral que quebrou a espinha do seu dileto partido e de toda a estrutura de apoio parlamentar que conseguiu montar.

Mas Lula lançou-se em maltraçadas linhas de programas, como o Fome Zero, o Primeiro Emprego e outros de caráter ou cartaz social, o que desde logo significou uma reviravolta na política brasileira. Este sempre foi, por mais bem intencionados que fossem alguns de seus dirigentes, um País de distintas classes sociais, largas diferenças de renda e um imenso contingente de cidadãos na miséria, próximos dela e quase sempre no analfabetismo ou lindeiros a ele.

Acontece que as elites brasileiras e, sob sua liderança, o resto da sociedade, acostumaram-se a ver sem indignação essas gritantes diferenças sociais. Paliativos surgiram muitos, mas nunca um governo, mesmo que da boca para fora ou de forma pouco adequada, apresentasse como prioridades o fim das diferenças e a inclusão social de milhões de párias da nossa sociedade. Lula fez isso e, se não salvou muita gente ou apenas desenvolveu programas capengas de assistencialismo, conseguiu fazer crer que o outro lado, seus opositores, desejava e deseja a eternização das injustiças sociais.

Surgiu então o fenômeno Hugo Chávez, na vizinha Venezuela. Um militar golpista, populista, demagogo e corajoso suficientemente para peitar os Estados Unidos. Uma ocasião propícia, pois a grande nação do Norte está sendo governada por um presidente, Bush, a quem evidentemente falta bom senso.

Lula, mesmo de cima do muro, tem conseguido mostrar-se aliado de Chávez e ainda atrai para o grupo de rebeldes o novo presidente da Argentina e o recentemente eleito presidente da Bolívia. Chávez é o modelo. Ele dividiu a nação venezuelana entre os que têm e os que nada têm. Acentuou a divisão entre ricos e pobres e, como estes são a maioria, conseguiu conquistar a posição de seu representante e defensor. Apoiado por tão grande massa de desafortunados, pisa na Constituição, no regime democrático e mostra a língua para o poderoso George Bush. E, se ocorrerem eleições na Venezuela, mesmo que livres, apesar de sua história golpista e seu evidente populismo demagógico, Chávez será reeleito, com certeza.

Para Lula, esse é o caminho das pedras. Deixa os candidatos da oposição para a minoria elitista e atrai para si os votos da maioria historicamente desrespeitada. Se a oposição não abrir os olhos, com todos os senões, o atual presidente se reelege…

Voltar ao topo