Chávez poderá usar o Mercosul para ampliar sua influência

Caracas e Brasília – A adesão da Venezuela ao Mercosul, concretizada hoje (4) em Caracas com a assinatura de um protocolo, e o salto de mais de 120% nos preços internacionais do petróleo, desde 2003, dão ao presidente Hugo Chávez a ferramenta de política externa de que precisa para estender ainda mais seus tentáculos sobre a América do Sul. Com os cofres cheios de petrodólares, Chávez já vem espalhando "bondades" nos países da região, em troca de apoio político para suas iniciativas. Já foram anunciados investimentos na Argentina Bolívia, Brasil, Colômbia e Uruguai, num total de US$ 6,2 bilhões.

Após dar apoio total à eleição de Evo Morales na Bolívia, por exemplo, Chávez pôs em execução um pacote de ajuda. Prometeu o abastecimento regular de petróleo, de diesel e GLP àquele país. Também injetou US$ 100 milhões em projetos de infra-estrutura e mais US$ 30 milhões na área social. Enviou técnicos da PDVSA para assessorarem o inexperiente governo Morales na formulação do decreto que nacionalizou o setor do gás e do petróleo e na recriação da estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Bolívia (YPFB). Além disso, a estatal Petróleos de Venezuela S.A (PDVSA) vai investir na exploração de petróleo, gás e minérios na Bolívia. Chávez decidiu, ainda, investir na industrialização da coca. Em troca de todas essas generosidades, Morales aceitou apoiar a Alternativa Bolivariana das Américas (Alba), uma tentativa de se opor ao falecido Acordo de Livre Comércio das Américas (Alca).

Outra beneficiada com os petrodólares venezuelanos é a Argentina Chávez comprou US$ 2,5 bilhões em bônus da dívida pública em maio do ano passado. Este ano, comprou mais US$ 239 milhões. A Argentina e o Brasil são sócias da Venezuela em outro projeto: a Petrosur, uma parceria entre as petroleiras estatais da América do sul. São sócias, também, no Gasoduto do Sul, uma obra estimada em US$ 20 bilhões que levará o gás venezuelano a cinco países sul-americanos e se conectará às jazidas da Bolívia, se for levada adiante. Estimulado por essa "tríplice aliança", Lula aceitou o acordo entre a Petrobrás e a PDVSA para a construção de uma refinaria de petróleo venezuelano em Pernambuco, ao custo de US$ 1,250 bilhão para cada país. As aproximações políticas de Chávez também se estenderam ao Uruguai do socialista Tabaré Vázquez, onde ele injetou pelo menos US$ 642 milhões: desde a compra de postos de gasolina na Argentina, pertencentes à uruguaia Ancap, até a conversão de uma refinaria, passando por várias doações para hospitais.

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