Centro-Sul antecipa safra para não faltar álcool

São Paulo – O setor sucroalcooleiro do Centro-Sul produzirá 850 milhões de litros de álcool entre março e abril, antecipando o início oficial da safra 2006/07 que ocorre em maio, para evitar que os estoques limitados do produto acabe criando problemas de abastecimento. Pelas estimativas da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), se a safra não for adiantada, o Centro-sul chegaria no dia 30 de abril com um déficit de 620 milhões de litros.

"O adiantamento da safra foi uma das medidas acordadas com o governo na reunião de quarta-feira para contribuir para que os preços fiquem mais estáveis", disse Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Unica. Segundo ele, o pico de preços do álcool já passou. "Historicamente ele acontece em janeiro e este ano a alta foi provocada também por alguns motivos adicionais, além da entrada da entressafra", explica.

Para Carvalho, duas medidas tomadas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) e pela Secretária da Fazenda do Estado de São Paulo no final de 2005 provocaram uma corrida para compra de álcool. As medidas tinham como objetivo acabar com a sonegação de impostos através da adição de água ao álcool anidro, transformando-o em hidratado. A ANP aplicou a adição do corante no álcool e a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo vinculou as compras de álcool anidro pelas distribuidoras à gasolina estocada. "Por esta medida, as distribuidoras só poderiam comprar um volume de anidro de 25% do total da gasolina estocada", explica Antonio Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica.

O presidente da Única informa que as vendas de álcool para as distribuidoras aumentaram 35% em dezembro em relação ao mesmo período de 2004, cerca de 80 bilhões de litros acima do previsto para o período. "As distribuidoras anteciparam suas compras antes das medidas entrarem em vigor e esta maior demanda fez os preços se elevarem", disse. Por outro lado, Carvalho nota que, depois que as duas medidas entraram em vigor cerca de 40 distribuidoras que compraram álcool anidro normalmente durante os 3 últimos meses, saíram do mercado.

Na prática, o teto de R$ 1,05 por litro de álcool carburante também coloca um freio na demanda concentrada que estava ocorrendo porque o mercado agora tem ciência que os preços não irão subir acima deste nível. Rodrigues, da Unica, explicou que este preço vale tanto para o álcool anidro como para o hidratado. Segundo ele, de acordo com o Indicador Esalq Semanal, o preço do anidro estava em torno de R$ 1,08 e o de hidratado em torno de R$ 1,03, "o que significa que o anidro deve recuar para R$ 1,05 e que o hidratado pode até ainda subir um pouco", embora ache difícil que isto ocorra.

Produtividade 

A Unica informou que a produção de cana-de-açúcar da safra 2005/06 foi de 336 milhões de toneladas, um crescimento de apenas 2,2% em relação ao ano anterior e uma queda de 2,6% em relação à estimativa inicial, de 345 milhões de toneladas. Segundo o presidente da Unica, Eduardo Pereira de Carvalho, apesar do pequeno crescimento da cana processada, a produtividade caiu em 4,2%.

As perdas de produtividade foram provocadas principalmente pelo envelhecimento do canavial e pela seca que atingiu as áreas produtoras mais ao sul. Enquanto o volume de cana de 1 ano e meio processada caiu de 14% na safra passada para 12%, o processamento de cana com 4 cortes subiu de 18% para 20% e o de 5 cortes subiu de 7% para 13%. Enquanto a cana de 1 ano e meio tem uma produtividade de 120,4 toneladas por hectare, as canas de 4 e 5 cortes tem, respectivamente, produtividade de 70 e 64 toneladas por hectare.

Além disso, o fato de parte da safra ter sido perdida por conta da falta de chuvas, principalmente no Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Assis, fez com que muitos produtores, para atender a demanda, tivessem que processar a cana que ainda está "verde", com idade inferior a 12 meses, o que também provocou a queda na produtividade.

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