Cegueira ou corrupção

Há cegueira resultante de ineficiência ou por fecharem os olhos de propósito diante de grossas falcatruas em certos órgãos do governo. Ou corrupção, rolando propinas para comprar o silêncio ou mesmo a colaboração de representantes do poder público em negociatas. É o que se deduz da denúncia revelada por auditorias e relatórios do Ministério dos Transportes realizados após o estouro da Operação Navalha no Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit). Há indícios de licitação fraudulenta, sobrepreço e prorrogações de contratos irregulares. E ?a suspeita de que a Gautama tenha levado um ?extra? de R$ 4,5 milhões, sem justificativa, além de ter assinado convênio para erguer pontes que já existiam no Maranhão?. A Gautama é a empresa de Zuleido Veras, preso pela Polícia Federal e que se provou ser a cúpula de uma das várias máfias existentes no País para ganhar dinheiro ilícito com obras públicas. A série de irregularidades está nos contratos relacionados às BRs 319 (Amazonas), 402 (Maranhão) e 242 (Bahia).

Essa gorjeta de R$ 4,5 milhões apareceu quando foram transferidas obras do DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem) para o Dnit. Uma auditoria assinada pela consultoria jurídica do Ministério dos Transportes chama a atenção para o fato de que, de repente, um contrato, que deveria ser de R$ 87,3 milhões, passou a ser de R$ 91,7 milhões. Passaram-se meses, anos e nenhuma providência efetiva foi tomada, nenhuma auditoria realizada e concluída. Fecharam os olhos ou correu dinheiro, propinas grossas, o que já se provou ser prática generalizada da máfia da Gautama, que já envolveu até um ministro de Estado, governadores, deputados, magistrados e tanta gente mais que fica até difícil enumerar. Alguns deles estão na cadeia, outros foram soltos para responder a processos em liberdade, vários puxaram o cobertor do foro privilegiado para proteger-se e quando a opinião pública imagina que, bem ou mal, as coisas estão andando, lá vêm novos escândalos a desafiar sua capacidade de julgamento.

O Ministério dos Transportes admitiu que ?um conjunto de equívocos? foi comprovado. E diz que atualmente há sindicâncias em curso para apurar eventuais irregularidades nos contratos entre o Dnit e a Gautama. O que espanta é como se é leniente neste País com as grossas negociatas. Tratá-las de um ?conjunto de equívocos? é escárnio, pois em um só deles aponta-se uma mordida no dinheiro do povo de R$ 4,5 milhões. Se equívocos, teremos de concluir que setores essenciais do governo, como o que contrata obras públicas, são absolutamente incompetentes. A diferença não é de tostões ou milhares de reais, mas de milhões. E, ainda, foi denunciado e ficou para as calendas a contratação de obras que já existiam. Contratos de ficção enchendo os bolsos de malandros com a criminosa conivência de servidores públicos, muitos deles autoridades de alto coturno. E tudo isso quando há permanente grita contra a extorsiva carga tributária que enche as burras do governo. E revela-se que parte desse dinheiro, que não retorna em benefícios para a população, vai para o bolso dos mafiosos.

Tudo isso quando há carências dolorosas em setores essencialíssimos como os de saúde pública, segurança e outros que nos tornam um país com uma vasta fatia de pobreza e uma lista apenas de ricos, muitos deles tendo conquistado essa posição privilegiada roubando o dinheiro das massas. Esse ?conjunto de equívocos? deveria ter seus responsáveis apontados e, no mínimo, demitidos do serviço público. Isso se não estiverem envolvidos em desvios de recursos públicos, o que demandaria maior seriedade, com punições exemplares e recuperação do dinheiro surrupiado do povo.

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