Cartilha do oportunismo

A direção nacional do PMDB resolveu iniciar o ano pressionando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a finalidade de acelerar a nomeação do titular do Ministério das Minas e Energia (MME), onde se encontra interinamente o secretário-executivo Nelson Hubner desde a exoneração de Silas Rondeau, acusado pela Polícia Federal de ter recebido propina de um empreiteiro de obras.

O MME pertence à cota do PMDB, maior bancada da base governista no Congresso e, mais, o titular da pasta tem sido indicado pessoalmente pelo senador José Sarney (PMDB-AP), como ocorreu com Rondeau.

O presidente Lula, a bem da verdade, chegou a pensar na recondução do ex-ministro, diante da precariedade das provas apresentadas pela PF para respaldar os indícios de que Rondeau teria recebido um envelope com uma quantia em dinheiro, entregue por uma funcionária da empreiteira Gautama a um de seus assessores diretos, na área reservada do gabinete.

Lula somente não arriscou na recondução do ex-auxiliar, que considera um técnico de elevada competência, para evitar uma surpresa desagradável, vez que o procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, ainda não ofereceu denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra os envolvidos na Operação Navalha, que desvendou o escândalo das emendas ao orçamento da União, supostamente capitaneado pela construtora Gautama.

Diante disso, o PMDB reivindica a nomeação imediata do ministro das Minas e Energia, recaindo a escolha partidária na pessoa do senador maranhense Edison Lobão, sabidamente, mais uma das devoções pessoais de Sarney. Lobão pertenceu até outro dia aos quadros do antigo PFL, remanescente da extinta Arena (partido que apoiou incondicionalmente a ditadura militar), rebatizado de Democratas.

Será mais um soldado sem farda da ditadura, cristão-novo dos ideais libertários a desfilar seu charme pela Esplanada dos Ministérios, alargando ainda mais o sentimento de decepção dos puristas do Partido dos Trabalhadores.

Caso o presidente Lula efetive a indicação, o PMDB estará à vontade para forçar a nomeação dos apadrinhados de governadores, senadores e deputados federais que aguardam seu lugar ao sol em cargos do segundo e terceiro escalões da administração federal e nas estatais.

O partido espera preencher logo a presidência da Eletrobrás e a diretoria internacional da Petrobras. É necessário mudar para que as coisas permaneçam em seus lugares, reza a cartilha do oportunismo.

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