Carnaval providencial

O Carnaval começa na sexta-feira e termina na Quarta-feira de Cinzas. É a regra, vencida pelas exceções, pois em muitas regiões do País inicia-se muito antes e termina ao encerrar-se o primeiro dia da semana seguinte, o domingo. E, de tempos para cá, criaram ainda os chamados carnavais fora de época. Acontecem em muitas cidades, inclusive em algumas onde o Carnaval nas datas oficiais sequer ocorre ou é morno e insosso. É o caso de Fortaleza. Em Curitiba, tem Carnaval. É o Carnaval da teimosia, para não falar em Carnaval da demagogia, pois é tão chocho e tão contrário ao espírito da cidade e de seus habitantes que só serve para que algumas lideranças, não poucas políticas e muitas com pretensões eleitorais, bajulem os poucos habitantes verdadeiramente carnavalescos. Aqueles que acreditam em Momo e na folia e não dispensam, mesmo que sejam um grupo de gatos pingados em meio a uma população que, na Região Metropolitana, já chega aos 2,5 milhões de habitantes. Muitos já sugeriram que Curitiba seja considerada área livre de Carnaval, para que sirva de destino de turismo de descanso.

Não exageremos. O correto é que o Carnaval curitibano seja o que tiver que ser. Quem sabe se, um dia, vai ferver, amornar ou esfriar de vez. Os ânimos do povo falarão mais alto do que os pregadores da folia ou da alforria da cidade, não importam as verbas públicas que sempre são reclamadas.

No Brasil, considerados os lugares onde o Carnaval é movimentado, a festa é a maior do mundo. E atração turística e cultural de interesse nacional e internacional. Neste ano, também de interesse político e econômico. Por que? Porque às vésperas do chamado tríduo de tantos dias quantos agüentar o fôlego dos foliões, estouraram escândalos atingindo, mesmo que de raspão, altas autoridades do governo federal. Ou pelo menos levantando contra elas suspeitas que podem ser infundadas, mas, mesmo assim, fazem os seus estragos na popularidade de Lula, José Dirceu e lideranças menos expressivas. De interesse econômico porque a decisão técnica e conservadora do Banco Central, da última quarta-feira, mantendo os juros básicos (Selic) em 16,5%, sem nenhuma alteração para baixo, como desejavam as chamadas forças produtivas, desta vez fazendo coro com as lideranças dos trabalhadores, fez com que o dólar subisse, a Bolsa caísse, o risco-Brasil fosse às alturas, os investidores desanimassem e os desempregados voltassem a acreditar que continuarão a fazer parte do Guiness, marcando o recorde dos sem-trabalho.

Desta feita, o Carnaval é especialmente interessante porque as bases do governo racharam diante de tantos problemas, alguns reivindicando CPIs e outros as rejeitando. E as CPIs cogitadas ou requeridas são tantas que mais parecem blocos carnavalescos, montados para que políticos loucos por aparecer façam a festa.

A esperança é que na segunda-feira que vem, já passada mais de uma semana, os ânimos esfriem e haja clima para negociações. Que a paz volte a reinar nas hostes situacionistas e acalmem-se os oposicionistas. Que o milagre do desenvolvimento não aconteça, mas restem ainda algumas esperanças futuras. Ou pelo menos paciência de quem, depois de tantas desilusões, pôde vestir a máscara, por alguns dias, para fingir alegria e esconder o desânimo, a desesperança, as decepções. Na semana que vem a festa deverá ser na Granja do Torto, com churrasco e pinga para acalmar os ânimos, na esperança de que o povo já tenha esquecido da crise.

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