Campos-RJ põe 700 desabrigados em escola

Na favela onde moram, em Campos, no Rio, Valdéia Zacaria da Silva, de 50 anos, e Ana Beatriz da Silva Barreto, de 32 – mãe e filha -, são vizinhas. Vítimas das enchentes, as duas continuam juntas, mas agora no auditório da Escola José do Patrocínio, que abriga o maior número de desabrigados. A prefeitura montou outros 29 abrigos.

Na escola, são cerca de 700 pessoas, que começaram a chegar há quatro dias. Valdéia e Ana, como os demais, pouco salvaram de seus barracos: a mãe resgatou uma parte do guarda-roupa, o sofá e o fogão. A filha recuperou metade de um sofá (o restante não conseguiu levar), uma mesa e o aparelho de som. ‘A gente leva anos para pagar as coisas e a chuva vem e leva tudo num piscar de olhos’, lamentou a dona de casa Valdéia. Ela está no abrigo com o marido, Adelestone dos Santos Barreto, de 53, os filhos mais jovens, de 14, 24 e 26 anos, e um netinho de 7. Ana levou os filhos Pâmela, de 15 anos, e Pablo, de 16. Para dormir, Ana e os adolescentes se espremem em dois pequenos colchonetes e no pedaço de sofá que restou.

Cooperação

No auditório, há oito famílias. Cada uma se ajeitou num canto com o que pôde trazer da casa alagada. Um fogão, panelas, estantes, algumas peças de roupa – é o que se vê pelo chão. Tudo arrumadinho, na medida do possível, diz Ana. ‘Todo mundo está se ajudando. Quem não tem prato ganha prato; quem não tem onde cozinhar usa o fogão do outro.

Os barracos de mãe e filha estão cobertos de água e lama. ‘Voltei lá ontem (domingo), mas a água estava na altura da cintura. Não há condições de voltar. É duro começar o ano assim. Ainda mais eu, que fui demitida no dia 26 de dezembro e agora não sei o que vou fazer’, conta Ana, que é doméstica.

Além do auditório, todas as 29 salas da escola foram ocupadas. Na cozinha, foi improvisada uma central de distribuição de donativos – roupas, sapatos, lençóis, colchonetes, travesseiros e mantimentos doados pela população. Algumas pessoas reclamam que o que tem não dá para todos. ‘Recebi um saquinho de arroz, outro de feijão e um pacote de biscoito para mim e outras quatro famílias, com quem dividimos uma salinha’, diz Edilane, dona de casa que prefere não ter o sobrenome publicado. Ela foi para o abrigo com os três filhos, de 7, 3 e 1 ano de idade. O marido, pintor, está viajando. ‘Desde sábado que as crianças só comem Miojo.

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