Campanha orienta população e médicos sobre doação de órgãos

Brasília – A Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) promove nesta semana a 8ª Campanha de Doação de Órgãos e Tecidos. "Vida é para doar e para receber" é o tema da campanha, que marca o Dia Nacional do Doador de Órgãos, comemorado nesta quarta-feira (27).

De acordo com a entidade, o objetivo é esclarecer a população sobre como funciona o processo de doação de órgãos. Dados da ABTO indicam que cerca de 60 mil pessoas aguardam por um transplante no país. A campanha visa também orientar os médicos que fazem as notificações de potenciais doadores; o governo, que gerencia o sistema; e os legisladores, que têm de criar leis específicas para regulamentar os transplantes.

?Vamos tentar que o efeito temporário dessa semana possa, a cada ano, significar um degrau, um patamar um pouquinho mais alto no progresso dos transplantes, que ainda têm muito o que progredir em relação ao número de procedimentos para atender a demanda que é muito alta no país?, afirmou o secretário da ABTO e chefe do Serviço de Transplante de Fígado da Santa Casa de São Paulo, Paulo Massarolo.

Segundo o médico, só para transplante de fígado, estão na fila sete mil pessoas. Atualmente, são feitos apenas mil transplantes de fígado por ano no Brasil.  Para Massarolo, o que dificulta a realização de mais transplantes não é a falta de doadores, mas o esquecimento na hora de notificar um possível doador, a recusa de algumas famílias e limitações no sistema de saúde.

?Quando as famílias concordam, os doadores precisam receber uma série de atenções, cuidados médicos adequados para confirmar a morte encefálica, retirar os órgãos adequadamente e poder transplantá-los com segurança. E a condição para isso, muitas vezes, esbarra nas limitações do nosso sistema de saúde, que tem deficiências?, disse o médico.

O professor de Bioética da Universidade de Brasília (UnB) Volnei Garrafa lembra que a população deve exigir que o sistema público de captação de órgãos esteja bem aparelhado. Quanto à questão ética envolvida nos transplantes, o professor disse que é contra a doação entre pessoas vivas que não sejam parentes até o segundo grau.

?Eu acho que num país com tantas fragilidades como o Brasil – fragilidade no sentido econômico, pobreza, social, educacional – isso aí teria que ser modificado na lei. Eu acho que a lei brasileira deveria modificar e impedir, proibir a doação entre vivos não aparentados?, defendeu o professor.

A doação entre desconhecidos, segundo Garrafa, poderá abrir brechas para o comércio de órgãos, que é ilegal no Brasil. ?A espécie humana, o ser humano, é um fim em si mesmo. Ele não pode ser um meio para resolver outros problemas, ele é um fim em si mesmo. Então, eu sou completamente contrário a qualquer forma de mercantilização do corpo humano, seja sangue, sejam óvulos para reprodução assistida. E órgãos para transplante também?.

Para o professor, é preciso acabar com a falácia de que não existem órgãos em número suficiente para reduzir as filas de transplantes no Brasil. O que falta é um sistema ágil e eficiente de captação e aproveitamento de órgãos, ressaltou. ?Então isso aí é uma coisa que o Brasil deve desenvolver mais, para chegar no futuro com um sistema que seja realmente o desejável para uma sociedade?.

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