Camicases do Planalto

Tão ou mais desprezível quanto a atitude maniqueísta do diretor exonerado de suas funções na ECT – o homem de três mil reais – é a ação camicase do governo na tentativa de abortar a CPI dos Correios, apavorado ante a probabilidade não remota do surgimento de outras maracutaias praticadas no âmbito das estatais.

Ora, o PT sempre cultivou como primeira obrigação programática a defesa intransigente da transparência ética na vida pública, invocando furibundos raios do Olimpo sobre quem abria a guarda, conquanto dispusesse de palco e refletores – além de platéia embevecida – para desfilar sua virtual pureza. Se foi mero jogo de cena, a sociedade não perdoará.

Desde o acidente de percurso causado pela barbeiragem de Waldomiro Diniz, íntimo de corretores zoológicos de alto coturno e, ao mesmo tempo, figura louvada no círculo fechado de serviçais do ministro José Dirceu, o PT é depositário infiel do resgate público desse compromisso moral.

O que fez então, repete agora no afã de convencer deputados da base aliada que assinaram o requerimento de instalação da CPI, a tornar sem efeito a decisão anterior. Um retrocesso difícil de explicar e, mais ainda, de compreender ou aceitar, vindo do partido que em menos de três décadas consolidou-se como lídimo defensor da democracia e da honestidade.

Mais infame que a desfaçatez de solicitar a alguém que retire a assinatura de um documento qualquer, se este não formaliza nenhuma agressão ao bom senso, e mesmo considerando que para alguns dos subscritores respeitabilidade e honradez valiam só nos tempos de capa e espada, é a presunção de inocência que os operadores do Planalto se esfalfam em transmitir.

Para o presidente Luiz Inácio restou a tarefa espinhosa de deglutir a patranha do operístico deputado Roberto Jefferson, a quem confessou não ter dúvida em dar um cheque em branco.

Sua excelência, mesmo sabendo ler àquela época, provavelmente não teve acesso aos escritos do filósofo da malandragem Stanislaw Ponte Preta. É uma pena, porque teria aprendido uma preciosa lição: ?Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas?.

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