Calçados da discórdia

Prossegue o impasse comercial e diplomático entre Brasil e Argentina, motivado pelo embargo do governo vizinho à entrada de calçados fabricados em nosso País. Como relatávamos neste espaço há alguns dias, o embaraço é proveniente do chamado regime de licenças não automáticas para a importação do referido produto.

A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), no papel de lobista do setor, chegou ao extremo de solicitar do governo brasileiro a adoção de medidas recíprocas de retaliação à medida tomada por Buenos Aires. Isso porque milhares de pares de calçados estão retidos nos pátios das aduanas argentinas.

O empresário Élcio Jacometti, presidente da Abicalçados, foi taxativo ao reivindicar o mesmo tratamento que a Argentina ora dispensa ao exportador de sapatos fabricados no Brasil, cerceando o ingresso de produtos argentinos em nosso mercado. Representantes dos setores de comércio externo de ambos os países estão negociando uma saída honrosa para o litígio.

Indústrias calçadistas que direcionam parte da produção para o mercado argentino reclamam da lentidão com que o governo brasileiro trata o assunto. Eles acusam também o governo de responsável pelo prejuízo advindo da retenção das partidas exportadas há duas semanas.

Jacometti calculou em cerca de 700 mil pares de calçados destinados à Argentina, embargados nas aduanas ou armazenados nas zonas de fronteira. O argumento mais forte para a pronta ação do governo é a proximidade do Dias das Mães, comemorado na Argentina a 20 de outubro, cuja motivação para o comércio é semelhante ao Natal.

O presidente da corporação industrial do calçado no Brasil admite que a perda do setor em termos do mercado vizinho chegue a 1,5 milhão de pares somente em outubro. Em 2004, o Brasil exportou 15,3 milhões de pares para a Argentina, faturando US$ 104,6 milhões.

Setor amiúde prejudicado pela instabilidade econômica e, por força da freqüente retração do mercado interno, estimulado a dirigir seu esforço para a negociação externa, a indústria calçadista vê-se, de momento, cerceada por um de seus melhores compradores. A resolução imediata do imbróglio está nas mãos dos diplomatas.

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