Bush arrependido

O presidente Lula, no seu discurso de apresentação do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, fez uma profissão de fé na democracia. Foi incisivo e insistente, colocando o regime democrático e sua preservação acima de qualquer outro objetivo, inclusive o de crescimento econômico que o seu novo plano vai tentar. Dá para pensar que essa pública declaração de amor à democracia é um indício de que o presidente do Brasil está no time do venezuelano Hugo Chávez e sua turma e do inativo por doença Fidel Castro, mas não à custa da democracia. Na Venezuela ela parece que já foi ?pra cucuia?. Aqui, Lula quer preservá-la, mesmo que imperfeita, mas sem as atitudes ditatoriais que os outros presidentes de esquerda da América Latina já começam a pôr em prática.

Isso significa que continuaremos a ter oposição. E nesta era de Lula, oposição não serve só para perder eleições, mas também para frear o governo quando este erra, tenta impor suas próprias razões e anular o contraditório que é próprio da democracia. Nunca precisamos tanto desse contraditório como agora, quando será discutido o PAC, ou seja, uma tentativa ampla de desenvolvimento econômico do País. A lição de o quanto é útil e desejável o sistema democrático se revela mais eloqüente nos Estados Unidos. Lá, um ditador frustrado, porque sujeito a um regime solidamente democrático, acaba de perder as eleições legislativas. George W. Bush, presidente que tinha (e talvez ainda tenha) a pretensão de mandar no mundo, depois de haver provocado guerras sangrentas como a do Afeganistão e do Iraque, causando a morte de milhares de pessoas, inclusive de conterrâneos seus, acabou surpreendido pelas urnas que elegeram maioria oposicionista (democrata) no Congresso e pelas pesquisas de opinião pública que mostram que está no mais baixo nível de popularidade, ou o mais alto de impopularidade de todo o seu mandato. Hoje, pouco mais de 30% dos norte-americanos aprovam o seu governo.

Por isso, ao comparecer ao Legislativo para o discurso formal de inauguração de uma nova legislatura, mesmo insistindo no direito ou dever de andar mandando em outros países do mundo à mão armada, ocupou uma boa parte de sua oração com assuntos que eram defendidos pela oposição, mas liminarmente rejeitados pelo seu governo. Dentre estes está o reconhecimento de que é hora de cuidar da sobrevivência do planeta Terra, ameaçado por catástrofes que se repetem quase todos os dias e em quase toda a parte, inclusive nos Estados Unidos. Mesmo tendo se negado a assinar o Protocolo de Kioto, que comprometia os signatários a reduzir os fatores poluentes que ameaçam a camada de ozônio e provocam o aquecimento do planeta, ele voltou atrás e acabou falando em meio ambiente, em cuidados necessários para preservá-lo e propondo uma redução de 20% do consumo de combustíveis fósseis (gasolina, óleo diesel e outros derivados de petróleo) em dez anos.

A vitória da oposição no Legislativo teve o condão de enfiar um pouco de juízo no insensato presidente da nação mais rica da terra, obrigando-o a concordar que para continuar nessa posição de liderança, antes de mais nada é necessário que a Terra continue existindo e seja habitável. Ele descobriu que o petróleo é uma fonte energética que está acabando e é hora de buscar soluções, como a brasileira. Nós somos pioneiros na busca de combustíveis não poluentes, dentre eles o álcool.

A democracia, apesar de suas imperfeições, ainda continua sendo a melhor maneira de organizar uma sociedade. Reconheceu isso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, antes tarde do que nunca, George W. Bush, a quem faltava pouco para proclamar-se imperador do mundo.

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