Valério recebeu R$ 242,8 milhões do BB no governo Lula

Antônio Cruz / ABr

Marcos Valério na CPI: "A República
não cai por minha causa".

Brasília – O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, suspeito de ser o operador do chamado ?mensalão?, afirmou ontem, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) Mista dos Correios, que, somente no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu R$ 242,8 milhões do Banco do Brasil (BB) – R$ 218,8 milhões do BB e R$ 24 milhões do Banco Popular, para o qual foi feita uma concorrência interna entre as três agências de publicidade prestadoras de serviço para a instituição financeira.

Durante os dois últimos anos da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Valério recebeu R$ 109,1 milhões do BB, com o qual a DNA, uma das empresas dele, tem contrato desde 1994. Esse contrato é prorrogado e aumentado por termos aditivos. Em 2001, a conta foi de R$ 43,8 milhões; em 2002, R$ 65,2 milhões; em 2003, R$ 75,7 milhões; em 2004, R$ 103,3 milhões e, em 2005, R$ 39 milhões até agora. De acordo com o relator da CPI Mista dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), os aditivos não poderiam passar o percentual de 40%.

Ao responder às indagações do senador Alvaro Dias (PSDB-PR), ele negou que, como pessoa jurídica, tenha contas no exterior. ?Minhas empresas pagam fornecedores de fora.? Integrantes da CPI, no entanto, suspeitam de que Valério não só tenha contas lá fora, como também tenha remetido pelo menos US$ 1 milhão, o que é investigado pela Polícia Federal (PF).

Sobre o destino dos R$ 20,9 milhões sacados no caixa do Banco Rural, o empresário repetiu, várias vezes, que o vazamento da informação ?foi um ato ilícito?. Valério afirmou que o dinheiro era destinado ao pagamento de fornecedores, equipes de TV e cachê de artistas. Recusou-se a dizer quanto tem e onde faz aplicações financeiras. Para os gastos pessoais, disse que a retirada mensal é de R$ 30 mil.

Ainda nas respostas para Dias, o empresário disse que Eliane Alves, mulher do funcionário Marco Antônio Silva, da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República, foi gerente da Multi Action Eventos, uma das empresas dele, em Brasília. Valério opinou que esse grau de parentesco não significa tráfico de influência na secretaria, que cuida dos contratos de publicidade de todo o governo. ?Não vejo tráfico de influência porque a Secom não controla as licitações?, disse. O empresário afirmou ainda que não conhece o ministro Luiz Gushiken e que presenteou o secretário-executivo da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência, Marcus Flora, e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) com uma caneta Mont Blanc.

O empresário pôs sob suspeita a reportagem da revista IstoÉ Dinheiro, para a qual a ex-secretária Fernanda Karina Somaggio informou que ele sacava recursos com o objetivo de efetuar pagamentos a parlamentares. Curiosa foi a resposta dada por Valério para a insistência de Jefferson em acusá-lo de ser o operador do ?mensalão?: ?Deve ser porque sou meio careca e porque tenho relacionamento próximo com Delúbio Soares?.

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