Vai devagar com a pressa pelo poder, ironiza Lula

Elogiado como um parceiro na luta pela igualdade e autonomia da mulher, tido como um homem ?de alma feminina? e chamado de ?feminista de carteirinha?, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cometeu um deslize no seu discurso às mulheres brasileiras, ontem, em Apodi, no semi-árido nordestino, a 352 quilômetros de Natal: ?Vocês já são maioria da população brasileira, já são 52%, vocês já têm cargos de vereadoras, de prefeitas, de governadoras?, disse. ?Eu espero que vocês não sejam tão desaforadas e não comecem a pensar logo na presidência da República, vai devagar com essa pressa de poder.?

Apodi – A brincadeira do presidente foi recebida com risos e aplausos pela maioria, mas não passou em branco para duas mulheres que fizeram seus discursos durante o evento. Raimunda Celestino, coordenadora de política das mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), disse que a fala do presidente revelou o temor do poder das mulheres. Ela frisou que provavelmente ele será o candidato à reeleição, pelo carisma que possui tanto em relação a mulheres como a homens. Mas observou que o presidente ?tem preconceitos como os outros homens, tem suas dificuldades de compreensão da importância das mulheres na vida pública?.

Maria Gerusa Costa, representante das quebradeiras de coco de babaçu do Nordeste, disse que ?mais hoje, mais amanhã, nem que sejam as netas e bisnetas?, as mulheres vão ocupar cargos de vereadora a presidente da República. ?O Brasil está vendo que a cada momento estamos nos fortalecendo.?

O presidente lançou, no Assentamento Milagre, em Apodi, a campanha Crédito para a Igualdade das Mulheres Rurais. O objetivo é estimular e sensibilizar organizações patrocinadoras, instituições bancárias e as próprias agricultoras familiares a investir no Pronaf Mulher, uma linha de crédito do Pronaf, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, específico para as agricultoras rurais – independentemente de seus maridos ou companheiros terem acesso ao crédito do programa nacional de agricultura familiar.

Recebido por cerca de oito mil, calculou a PM-RN, trabalhadores e trabalhadoras rurais de todo o Nordeste, o presidente disse que sua presença em Apodi era um reconhecimento ao ?povo que há muitos anos é levado a viver de pequenas políticas compensatórias em função de crises? e a duas mulheres: sua mãe e a mulher Marisa. A mãe, nordestina de Garanhuns (PE) teve a coragem de botar os oito filhos num pau-de-arara, em 1952, para encontrar o marido que havia ido para São Paulo sete anos antes e o encontrou casado.

?Mesmo assim ela não perdeu a ternura, criou os filhos sozinha e ainda conseguiu fazer um filho presidente da República. Marisa, ?a galega?, foi mãe e pai dos seus filhos. Pela atividade sindical e depois pela atividade política, ele nunca estava com ela no nascimento dos filhos e quando foi preso em 1980, ela ?que parecia ser frágil, debilitada para enfrentar uma situação daquelas?, assumiu com as mulheres a luta dos metalúrgicos.

O presidente agradeceu a lição e a força dessas duas mulheres que o fizeram estar hoje onde está (na presidência do País) e também ?o carinho das mulheres trabalhadoras rurais que perderam tantas eleições comigo e também não desistiram?.

Manifestação contra a violência

Brasília – O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), desceu ontem a rampa do Congresso para conversar com parentes de vítimas da violência e prometeu trabalhar para a aprovação de projetos que elevam as penas para crimes hediondos, entre os quais o de estupro seguido de morte. ?Para alguns crimes não sou partidário da idéia de redução de penas. Sou é a favor de aumentar as penas?, declarou Renan. O presidente do Senado recebeu um manifesto dos familiares pedindo apoio contra a revogação da legislação que trata dos crimes hediondos. Poucos antes do encontro com Renan, cerca de 150 pessoas, entre parentes e amigos de vítimas da violência, participaram de uma manifestação no gramado do Congresso. Organizadores do ato, os pais da estudante universitária Maria Cláudia Del?Isola, Marco Antônio Almeida Del?Isola e Cristina Maria Siqueira Del?Isola. Maria Cláudia foi estuprada, morta e enterrada em sua própria casa pelo caseiro, em dezembro do ano passado. Para chamar a atenção da população para o drama da violência, o artista plástico Siron Franco foi convidado a fazer uma instalação no gramado do Congresso no formato de uma cruz. O artista usou fotos de vítimas e cópias de reportagens de jornais e revistas com notícias sobre assassinatos, espancamentos, estupros e miséria. Cristina Maria Siqueira Del?Isola disse que estava emocionada ao ver tantas pessoas unidas pelo mesmo sentimento e o mesmo objetivo, a luta contra a violência.

Marcha das mulheres reúne 20 mil

São Paulo – Mais de 20 mil pessoas participaram em São Paulo da Marcha Mundial das Mulheres, que percorreu as ruas do centro para marcar a passagem do Dia internacional da Mulher. Foi a maior manifestação dessa data no País e teve a participação de caravanas ou representantes de 15 estados, além de lideranças feministas do Canadá, Camarões e Burkina Faso. Cerca de setenta entidades participaram da organização, entre elas o Movimento de Articulação Internacional Feminista, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Marcha Mundial das Mulheres no Brasil, organização composta por diversas entidades como Comissão de Mulheres da Contag, da CNB, Camtra, CM8-Mossoró e Setorial de Mulheres da União Nacional por Moradia Popular. As participantes estavam organizados em quatro alas: vestidas com as cores laranja, roxa, verde e vermelha, representando os temas Igualdade, Liberdade, Justiça e Paz e Solidariedade.

A marcha começou na Avenida Paulista e terminou na Praça da República, no centro da cidade, com um show de rock e a leitura do principal documento do movimento: a ?Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade?, resultado de um longo processo de participação e convergência da luta do movimento feminista no mundo.

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