Vai a júri o maior serial killer brasileiro

São Paulo (AE) – Jonnathan era um menino pobre da periferia do município de São José de Ribamar, no Maranhão, assim como foi Francisco em Caxias (MA) e Altamira (PA). No final de 2003, os caminhos deles se cruzaram quando Jonnathan foi levar a bicicleta na oficina onde Francisco trabalhava. Por volta das 7h30 do dia 6 de dezembro, a convite do mecânico, foram à mata apanhar açaí. Francisco das Chagas Rodrigues de Brito, então com 39 anos, matou a pedradas Jonnathan Silva Vieira, de 15. Foi o último dos 42 assassinatos do homicida, apontado por autoridades e especialistas como o maior serial killer brasileiro.

A partir das 9h de amanhã, Chagas irá a júri popular pela primeira vez, e o relato acima será a argumentação do promotor Samaroni de Souza Maia, para pedir a condenação do réu pela morte de Jonnathan. A acusação formal é de homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe (morte está relacionada com interesse sexual) e meio cruel (pedradas). A posição de Chagas frente às acusações mudou algumas vezes desde que foi preso, pouco após a morte de Jonnathan. Primeiro, negou tudo. Depois, confessou ter matado 30 meninos no Maranhão e 12 no Pará. Chegou a apontar para a polícia o local onde deixou as vítimas, com margem de erro de 50 metros em relação aos dados dos laudos necroscópicos.

Recentemente, ele disse ao advogado, Erivelton Lago, que ?tem muita criação em cima disso?. Como exemplo das ?invencionices?, Lago afirma que há gente condenada por homicídios atribuídos a seu cliente. O advogado não definiu a estratégia de defesa. ?Vou depender do depoimento dele.? Na quarta-feira, ele repetiu para Lago a versão de que Jonnathan subiu numa árvore para pegar açaí, caiu e morreu. ?Se a versão for essa, para o Ministério Público será uma confissão. Para a defesa, início de confissão. Não terei como dizer que ele estava fora da cena do crime.? Lago não descarta a tese da inimputabilidade, ou seja, de que Chagas não tem consciência de seus atos.

A psicóloga forense Maria Adelaide de Freitas Caíres, que fez um dos laudos sobre a personalidade de Chagas anexado ao processo, é taxativa: ele tem um transtorno anti-social de personalidade, novo nome da psicopatia. Segundo ela, a doença não tem cura porque o ?estrago é muito profundo?. Maria Adelaide tem certeza de que, se voltar às ruas, Chagas matará novamente. Para a psicóloga e para o promotor, o acusado é semi-imputável. ?Ele sabe que o que fez foi errado, porque fez escondido, mas tem uma perturbação que o impede de evitar?, disse Maia. O juiz Marcio Brandão, da 1.ª Vara de São José de Ribamar, acredita que o julgamento dure, no mínimo, dois dias. Como o fórum da cidade é pequeno, o júri será realizado no auditório do Sesi. ?Cerca de cem familiares de vítimas estão mobilizados para assistir,? disse Brandão.

15 anos para chegar ao assassino

São Paulo (AE) – À polícia do Maranhão, Francisco das Chagas Rodrigues de Brito confessou, com detalhes, o assassinato de Leverílton Rocha dos Santos, de 10 ou 11 anos, em 3 de outubro de 1989, na cidade de Altamira (PA). Seria essa, segundo ele, a primeira morte das 42 que assumiu. Ao longo dos 15 anos entre o primeiro e o último crime, as polícias dos dois estados trataram as mortes como casos isolados.

Os crimes só foram tratados com inteligência a partir do início de 2003, quando o então delegado de homicídios João Carlos Amorim Diniz foi destacado para investigar cinco homicídios com as mesmas características. Após a morte de Jonnathan, Chagas foi preso, mas não admitia a autoria dos crimes.

A resolução do caso veio das mãos da escritora Ilana Casoy, especialista em serial killers. Diniz a encontrou pela internet e pediu ajuda para conduzir o interrogatório. Ilana estudou o ritual dos crimes, orientou sobre a confecção de provas e a metodologia das perguntas. ?Se você não mostrar, com provas, que ele é o autor dos crimes, ele vai rir de você?, disse a escritora, sobre o primeiro passo.

Diniz descobriu ossadas de meninos enterradas na casa de Chagas e, no mesmo dia, iniciou o interrogatório. Ao telefone com Ilana foi orientado a dizer que entendia que o acusado não matava os meninos porque queria, mas porque era doente. Por volta das 23h do mesmo dia, Chagas admitiu o primeiro assassinato.

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