Usineiros ameaçam com falta de álcool

No encontro de ontem, o setor sucroalcooleiro informou ao governo federal que é iminente a possibilidade de desabastecimento de álcool no País se o preço for mantido em R$ 1,05 por litro. O valor está previsto no acordo feito em janeiro entre governo e empresários, mas na semana passada o preço médio nas usinas superava R$ 1,07.

Em reunião do conselho da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), na semana passada, o setor não conseguiu fechar as contas de que conseguirá produzir 850 milhões de litros, ou mais de álcool, entre 20 de março e 15 de abril, o que evitaria um colapso no abastecimento de álcool no Centro-Sul do Brasil.

O presidente da entidade, Eduardo Pereira de Carvalho, foi quem deu a notícia ao governo federal. Para ele, o consumo do combustível no mercado não caiu com os aumentos de preços de dezembro e janeiro. Para piorar, as exportações, com o álcool a R$ 1,15 o litro, seguiam crescentes.

De acordo com um conselheiro da Unica, a situação criou polêmica até mesmo entre os diretores da entidade. Um dos maiores empresários do setor considerou que, admitir ao governo a quebra no acordo e ainda a falta de garantias de que a produção de álcool seria suficiente, seria ?um tiro no pé? do setor, justamente quando a cana-de-açúcar vive um dos melhores momentos dos últimos tempos.

Contrariada com o rompimento, por parte dos usineiros, do acordo que fixou em R$ 1,05 o preço do álcool combustível nas usinas durante a entressafra de cana-de-açúcar, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, intimou o setor sucroalcooleiro. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e outros ministros também foram chamados para o encontro.

O governo teme que altas expressivas no preço do álcool elevem os índices de inflação. Outro temor é que falte álcool no mercado interno. Aliado dos usineiros, Rodrigues adiantou que o governo não vai ceder aos apelos do setor para uma elevação do preço máximo praticado nas usinas. ?Vamos cobrar do setor o compromisso assumido em janeiro?, enfatizou Rodrigues. Ele não quis adiantar, no entanto, o que poderá ser feito se o acordo continuar a ser descumprido.

Na sexta-feira passada, os preços, tanto do hidratado, como do anidro, chegaram a R$ 1,072 nas usinas, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), ultrapassando o valor de R$ 1,05, por litro, acertado em 11 de janeiro entre os usineiros e o governo federal. ?A situação ficou muito chata para o ministro?, afirmou uma fonte da Pasta. Isso porque, em janeiro, quando os preços do álcool dispararam, Rodrigues e assessores saíram em defesa dos usineiros, disseram que a alta era resultado de uma situação de mercado, e convenceram Dilma e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva a aceitar o teto em R$ 1,05 para o litro do álcool. Dilma e Lula queriam que o preço de R$ 1,00 acordado em 2003 fosse mantido.

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