Um dia muito ruim para o Mercosul

Assunção – Foi um sinal ruim para o Mercosul. Sem a presença de seus colegas da Argentina e do Uruguai, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou ontem a sede do Tribunal Permanente de Revisão do Mercosul em cerimônia completamente esvaziada. Pior: a ausência do presidente da Argentina, Néstor Kirchner, jogou os holofotes em cima das disputas comerciais na região, em especial entre brasileiros e argentinos, escancarando o quadro de estagnação vivido pelo bloco sul-americano. “Não queremos nem podemos competir contra nós mesmos”, disse Lula, em discurso preparado para a solenidade realizada ao ar livre. “Perderemos soberania se nos mantivermos isolados, sem capacidade de ação e negociação coletiva.”

Nem os presidentes do Chile, Ricardo Lagos, e da Bolívia Carlos Mesa – dois países associados – prestigiaram o encontro. No lugar dos chefes de Estado, compareceram os representantes. Ao lado de Lula estava apenas o presidente do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos, que pediu um minuto de silêncio em homenagem às vítimas do incêndio no dia 1.º em um supermercado de Assunção, quando mais de 380 pessoas morreram. Antes de descerrar a placa comemorativa de inauguração e de plantar uma muda de pau-brasil no jardim do prédio, Lula destacou a importância do novo tribunal. “No momento em que nossas relações econômicas e comerciais se intensificam, gerando compreensíveis contenciosos, ele trará segurança e confiança”, observou.

O presidente do Paraguai, porém, expressou preocupação com os destinos do Mercosul. “Se a inserção num bloco regional não tiver influência nos objetivos políticos e na distribuição de recursos, teremos que revisar as atitudes, os métodos e os fundamentos da integração de maneira permanente”, disse Duarte Frutos. Para ele, caso isso não ocorra, a integração será “apenas um sonho”.

Na prática, a criação do tribunal permanente de revisão – um dia depois do impasse nas negociações para o acordo de livre comércio com a União Européia – é, até agora, a única medida concreta tomada desde que Lula propôs, em janeiro de 2003, “refundar” o bloco econômico formado por Brasil Argentina, Uruguai e Paraguai.

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