Traficantes metralham o Hotel Glória no Rio

Rio

– Mais um hotel foi metralhado por traficantes ontem no Rio. O tradicional Glória, na zona sul, que já hospedou diversas vezes o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi alvo de um grupo de criminosos armados de fuzis, que agiram de madrugada. Eles atiraram ainda contra um prédio residencial. Foi a quinta ação de terror do gênero este ano.

O ataque foi à 1h10. Os bandidos, que estavam em um Golf e um Vectra, acertaram quatro tiros na fachada do hotel Glória, na Rua do Russel, e mais um no edifício residencial que fica no número 388 da mesma rua, a 200 metros. Depois fugiram em direção ao centro da cidade. O Golf foi encontrado pela polícia perto de uma favela no Catete, bairro próximo ao hotel, com cápsulas em seu interior, mas ninguém foi preso.

A varanda do apartamento de Valdira Pereira Rodrigues ficou com a vidraça estilhaçada. Ela acredita que o alvo era outro hotel, o Golden Park, que fica ao lado do edifício. Valdira contou que estava dormindo e ficou com muito medo quando ouviu o barulho do tiro. “Minha sala parece que está em obra de tanta poeira que caiu da parede. Sou refém dentro da minha própria casa. Agora não saio mais à noite para ir à sala e à varanda, disse Valdira, de 65 anos, há 37 no prédio.

A vizinha Maria do Carmo Torraca, de 73, já decidiu: vai se mudar com o marido para o Mato Grosso, onde vive a filha. “Desisti do Rio. Está terrível, não dá mais para vier aqui. Minha filha vê o que acontece pela TV e fica aterrorizada.” Os hóspedes do Hotel Glória também ficaram assustados com a violência. O petroleiro Paulo Lucena, paulista de 26 anos, que mora ali há seis meses, quer se mudar para outro lugar. O hotel recebia Lula quando ele vinha ao Rio durante a campanha eleitoral e é o preferido dos ex-presidentes da República Itamar Franco (sem partido) e José Sarney (PMDB-AP), atual presidente do Senado. A direção não se pronunciou sobre o caso.

O primeiro ataque a hotéis no Rio foi na madrugada de 31 de março, quando traficantes lançaram bombas contra o Meridien, na Praia do Leme, zona sul, famoso pela cascata de fogos na noite do réveillon. No mesmo dia, à noite, o alvo foi a estação do Corcovado. Os criminosos atiraram contra a sede da estrada de ferro e uma réplica do trenzinho. Um prédio vizinho também foi atingido e algumas vidraças dos apartamentos foram estilhaçadas.

No último dia 9, bandidos jogaram uma bomba no shopping Rio Sul. E, em fevereiro, ordenaram o fechamento do comércio e queima de ônibus por toda a Região Metropolitana. Ontem de manhã, o policial militar Luiz Cláudio Dutra Guerra morreu durante uma tentativa de assalto na Pavuna, zona norte. Dois homens armados tentaram roubar o Palio do PM, que deu marcha à ré para fugir e acabou levando um tiro no peito. Outro policial, Eduardo de Souza, morreu com um tiro acidental, disparado por um colega.

Violência já afeta o turismo no Rio

A imagem de cidade violenta que o Rio adquiriu por causa das sucessivas ações criminosas está atrapalhando o turismo de negócios. Na semana passada, a 11.ª Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento, que seria realizada na cidade em junho do ano que vem, foi transferida para São Paulo. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Indústria de Hotéis (Abih), Alfredo Lopes, a decisão foi tomada por causa do medo da violência.

Lopes acredita que os ataques aos tradicionais hotéis Meridien e Glória e à estação do trenzinho do Corcovado arranharam a imagem da cidade no Brasil e no exterior. “As notícias levam quem está de fora a pensar que a cidade está sem controle. Não podemos deixar isso continuar assim”, disse. O Congresso Brasileiro de Arquitetos, que será realizado entre os dias 29 de abril e 3 de maio no Riocentro, é outro evento afetado pelo avanço da criminalidade. O encontro, que acontece a cada três anos e será no Rio pela primeira vez, terá baixas por causa do medo dos participantes. Dois mil profissionais brasileiros e de países da América Latina e Europa são esperados no congresso. “Esperávamos muito mais gente”, disse.

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