Temporal mata nove e leva caos ao Rio

Foram nove os mortos, vítimas do temporal que atingiu o Rio de Janeiro na noite de sexta-feira. Ontem, mais dois corpos foram localizados estacionamento de um shopping, na zona norte do Rio além dos quatro que foram encontrados sexta à noite. Às 6h45, uma casa desabou em Inhaúma, na zona norte, matando Iara de Oliveira Napoleão, de 80 anos. Em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, o segurança Rafael Gonçalvez dos Santos, de 24 anos, morreu eletrocutado ao pisar num fio de alta-tensão. Elias Alves Cordeiro, de 51 anos, foi arrastado pelas águas e afogou-se no Rio Gamboa, em São Gonçalo, no Grande Rio.

Essa foi a maior chuva que atingiu o Rio desde 1997, informou o coordenador da Defesa Civil Municipal, coronel João Carlos Mariano. Em alguns pontos da cidade o índice pluviomêtrico ultrapassou os 100 milímetros.

Na Penha, onde foi registrada a situação mais dramática, com seis afogados no estacionamento subterrâneo de um shopping, o índice atingiu 103 mm. Um canal transbordou nas proximidades do centro de compras e invadiu as ruas. O estacionamento ficou submerso em apenas dois minutos, depois que o portão de ferro foi destruído pela enxurrada. A água atingiu o teto da garagem, a uma altura de 2,20m. Mergulhadores do Corpo de Bombeiros, com auxílio de botes, retiraram os corpos das vítimas. "Duas das vítimas estavam ao volante, provavelmente aguardando a chuva passar. As outras tentaram proteger-se da chuva. Foi uma fatalidade", afirmou o coordenador da Defesa Civil Estadual, coronel Carlos Alberto de Carvalho. Segundo a Defesa Civil, existe a possibilidade ainda de alguns dos mortos terem sido arrastados da rua para o estacionamento pela força das águas.

O coronel João Carlos Mariano interditou o shopping na manhã de ontem por precaução. "Não descarto a possibilidade de os pilares terem sido afetados pela água", afirmou. A Defesa Civil do município recebeu 130 chamados entre 19h de sexta e às 7h de ontem.

Ontem, o dia foi de trabalho para livrar as ruas dos estragos do temporal – calçadas cobertas de lama, casas parcialmente destruídas, carros empilhados nas ruas ou arrastados para rios e canais, garagens inundadas. Em Niterói, 52 carros ficaram submersos na garagem de um condomínio no bairro do Fonseca. No Hospital Geral Getúlio Vargas, na Penha, a emergência foi fechada e funcionários começaram hoje a fazer a desinfeção do setor, que ficou alagada. As calhas do hospital não deram vazão à enorme quantidade de chuva, que começou a escorrer pelas paredes. A água da rua também atingiu o hospital, alcançando 50 centímetros de altura.

O Palácio do Catete, sede da presidência da República até 1960 e onde funciona o Museu da República, foi invadido pela lama. Todo o primeiro andar, onde não há obras históricas, a cafeteria, cinemas e setor administrativos foram inundados. A água chegava pela rua e pelos ralos. Nem o jardim escapou. A água da chuva que alagou a Rua do Catete, atravessou o museu e despejou lixo e lama no gramado projetado pelo paisagista Paul Villon, em 1897. "As galerias pluviais estão entupidas. Isso é muito grave em qualquer lugar, mas é muito mais grave perto de um prédio histórico, tombado", afirmou o diretor do Museu, Ricardo Vieralves.

Além dos transtornos causados pelo temporal, os motoristas que ficaram presos em engarrafamentos na Avenida Brasil tiveram de enfrentar ainda arrastões. O serviço de relações públicas da PM distribuiu nota informando que houve "fatos isolados" e que nove carros da corporação ficaram em áreas alagadas da via com giroscópios ligados para coibir a ação de assaltantes.

Choveu o equivalente a 20 dias

Ontem, voltou a fazer calor na cidade. Mas o Corpo de Bombeiros alertou que o banho de mar deve ser evitado por 72 horas, por causa do lixo e das gigogas – plantas aquáticas que se proliferam por causa da poluição – levados para as praias pela enxurrada. Apesar do sol, a previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) é de mais chuva para o Rio até a madrugada de terça-feira. "Houve um conjunto de fatores que provocaram o temporal. Vinte dias sem chuvas, a temperatura e umidade relativa do ar elevadas fizeram com que a atmosfera adquirisse muita energia. O que deveria ter chovido em vinte dias, acumulou e caiu de uma vez", afirmou a meteorologista Marlene Leal, do inmet.

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