Serraglio acha que Dirceu é culpado

Brasília – Ao ser indicado para a relatoria da CPMI dos Correios, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) chegou a ser apontado como um aliado do então ministro José Dirceu por ter apoiado a eleição do seu filho, Zeca Dirceu, para prefeito de Cruzeiro do Oeste (PR). Quatro meses depois, Serraglio, que incluiu o ex-ministro na lista dos parlamentares envolvidos com o valerioduto, rebate a versão de Dirceu, segundo a qual não há provas de sua participação no esquema.

P O que o senhor achou das declarações do deputado José Dirceu de que não existem provas de seu envolvimento no esquema operado por Marcos Valério e Delúbio Soares?

Serraglio: Duas coisas têm de ser levadas em conta. A prova testemunhal também é prova. Ainda mais quando se trata de alguém que convivia com o esquema. Podíamos ter até dúvidas sobre o testemunho do ex-deputado Roberto Jefferson, de que ele seria direcionado. Mas o que ele falou tem consonância com o que a CPMI apurou. Não há uma convicção de que Jefferson seja alguém que não fale a verdade. E havia um esquema que envolvia deputados corruptos? Havia. O que está comprovado pelos saques. Não é possível que não se infira nada desses saques. Se existiram os deputados que foram cooptados, é preciso que exista o outro lado.

P E quem estava do outro lado?

Serraglio: Quem pode tirar vantagem de votos de deputados?

P Então o senhor se refere ao governo?

Serraglio: Não sou eu quem está escolhendo quem está do outro lado. Quem informa quem operava pelo governo na nomeação de cargos não sou eu. Isso é como ver uma pessoa e achar que ela não tem pai nem mãe. Não se tem um corrupto sem ter alguém que o corrompa. E não fui eu quem o identificou.

P Quem fez isso?

Serraglio: O Roberto Jefferson. A Renilda (mulher do Marcos Valério), o Marcos Valério e o Palmieri (Emerson, tesoureiro do PTB). Ele diz que não se fechava nada sem antes ligar para o Dirceu. Além desses testemunhos, existem verdades que são, como no latim, verdades sabidas. Aquilo que é corum populo. Ou seja, uma verdade sabida. Todos sabemos que quem atuava no governo era o José Dirceu. Mas vamos abstrair a corrupção. Quem era o superministro que decidia tudo? São essas coisas que, reunidas, conduzem à verossimilhança. Se Jefferson dissesse que quem fazia isso tudo era outra pessoa, a tese não faria sentido.

P Qual a sua opinião sobre a tese de que Valério apenas tomou dinheiro emprestado e repassou o crédito ao PT?

Serraglio: Acho muito frágil. A contabilidade mostra que não havia registro dessas operações. Marcos Valério teria feito uma retificação na contabilidade, em junho, para inserir os empréstimos. Ele reorganizou a contabilidade para justificar as operações.

P Mas o senhor acha que há como o ex-ministro não ter sido informado dos empréstimos?

Serraglio: Admito a possibilidade de que ele não soubesse. Ele até podia operar sem saber de onde vinha o dinheiro. Mas ele teve muitos contatos com o Banco Rural (de onde saiu a maior parte dos R$ 55,9 milhões distribuídos por Valério), o que conduz para a possibilidade de que ele soubesse. E, além do Rural, ele teve conversas com Delúbio Soares e com Valério. 

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