“Sentença” anunciada: PT vai expulsar radicais

Brasília – As divergências em torno da expulsão dos radicais – decisão que será anunciada hoje pelo Diretório Nacional petista – marcaram ontem a abertura do encontro, em Brasília. Embora o primeiro dia da reunião fosse reservado apenas à discussão dos rumos do partido e balanço do governo, a degola da senadora Heloísa Helena (AL) e dos deputados Luciana Genro (RS), João Batista de Araújo (PA), o Babá, e João Fontes (SE) foi o assunto de todos os debates.

O presidente do PT, José Genoino, chegou ao hotel Blue Tree Park, às 9h, dizendo que lamentava mais a saída de Luciana Genro e Babá do que de Heloísa Helena e João Fontes. “O deputado Babá e a deputada Luciana Genro são coerentes com o que pregam, tanto que dizem que vão fundar um novo partido. Sempre fizeram oposição radical, mas não transformaram em ataques pessoais e adjetivações”, disse Genoino.

Os moderados cobraram um gesto de Heloísa Helena, comprometendo-se a respeitar as decisões partidárias, proposta considerada impossível até mesmo pelos aliados da senadora. Genoino afirmou que, se pelo menos a senadora tivesse votado em favor da reforma da Previdência, na semana passada, seria “um gesto”. E deixou claro que não há chance de poupar a senadora. “Se os membros do diretório nacional trouxerem um gesto realizado nesses 11 meses, eu quero ver. O partido precisa de gestos”, disse.

Oraida Campos, de 70 anos, viúva do senador Lauro Campos, levou para a reunião do Diretório um carrinho de mão cheio de papéis que continham 22 mil assinaturas em defesa de Heloísa Helena. “Ao invés de vir com canhão, estamos aqui com um carrinho de mão usado na construção da democracia”, afirmou. “Houve mudança no ideário do PT, mas algumas pessoas não têm facilidade para mudar, para raspar as barbas de uma hora para outra”, completou Oraida.

Genoino cumprimentou a petista, mas se manteve irredutível. “Recebo como uma manifestação democrática, tem nosso respeito. Divergi muito, mas nunca deixei de cumprir o estatuto do partido.” O presidente do PT voltou em seguida para a reunião e deixou o carrinho no saguão do hotel.

O deputado federal Chico Alencar (RJ) tentou marcar um último encontro dos quatro parlamentares que serão expulsos com integrantes da direção nacional, mas Genoino recusou. “Já fiz três acordos, não vou fazer o quarto. A vida e a política exigem isso.”

Para Genoino, a expulsão dos rebeldes não vai iniciar uma nova crise. “O partido não pode viver em função de uma pessoa, é uma crise momentânea que vamos superar. O que não podemos é continuar sangrando”, declarou.

Suspensão

Integrante da executiva nacional, o ministro das Cidades, Olívio Dutra, defendeu a suspensão dos rebeldes por um ano, período em que perderiam os direitos partidários mas não seriam desfiliados. Os parlamentares seriam, nesse período, observados pela comissão de ética, que então recomendaria o fim da punição ou a expulsão definitiva. “Findo um ano, se for mantida a hostilidade, pode haver a exclusão dos quadros do partido. Eles cometeram atos e atitudes desrespeitosos a nosso partido. Desafiam o partido com certo grau de desrespeito, mas não é suficiente para serem expulsos”, defendeu Dutra, que não participará na reunião de hoje, porque tem um compromisso em Bagé, onde, segundo ele, representará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O senador Eduardo Suplicy, um dos parlamentares que têm buscado uma solução que evite a expulsão, defendeu suspensão de seis meses para os rebeldes. Ele disse estar preocupado com a saúde da senadora Heloísa Helena, que tem tido crises constantes de vômitos. “Ela está muito abalada”, disse o senador.

Dos ameaçados de expulsão, o deputado João Fontes foi o único que esteve no hotel na manhã de ontem. Ele comparou a expulsão ao AI-5, ato de força do regime militar. “Há 35 anos exatamente, a ditadura fez o AI-5. Agora é o AI-13. Nem sei do que estou sendo acusado”, disse o parlamentar sergipano.

Lula não participa do encontro

Brasília

– O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou que não vai participar do encontro do Diretório Nacional do PT, que está acontecendo no Hotel Blue Three Park, em Brasília. A decisão de Lula, segundo um assessor do governo, é para evitar constrangimentos, porque o partido está tomando uma decisão muito séria. A expulsão dos radicais, disse o assessor, é algo traumático. O diretório nacional vai decidir se quatro parlamentares do partido, entre eles a senadora Heloísa Helena, serão expulsos.

Alguns ministros do PT, como o da Fazenda, Antônio Palocci, que integram o Diretório Nacional, também não devem votar, abrindo espaço para os suplentes. Como estão no governo, eles preferem não votar sobre a expulsão dos parlamentares que foram contra as orientações do governo e, consequentemente do partido.

Manobras tentam reverter decisão

Brasília

– Petistas de correntes mais à esquerda do partido fizeram ontem um último esforço para evitar a expulsão da senadora Heloísa Helena. Uma série de conversas e reuniões ocorreram entre essas correntes e governistas na tentativa de um acordo que retirasse da pauta de hoje a questão da senadora. Mas a direção nacional do partido continua decidida a manter a expulsão.

Uma das alternativas estudadas pelos que tentavam manter a senadora no PT seria a elaboração de uma nota a ser assinada pela senadora e por correntes internas que defendem sua permanência no partido.

Representantes da Democracia Socialista (DS), corrente da qual Heloísa Helena faz parte, procuraram o presidente do partido, José Genoino, que consultaria representantes da cúpula partidária. No documento, a senadora e a DS reconheceram a estrutura disciplinar do partido, mas ressaltaram que a senadora em momento algum falou em sair do PT e procuraram mostrar que há possibilidade de Heloísa Helena conviver com a legenda.

A ponte dos defensores da senadora com o Palácio do Planalto tem sido feita pelo ministro do Desenvolvimento Agrário Miguel Rosseto, que integra a DS. Ele tem conversado com o ministro da Casa Civil, José Dirceu, em busca de uma saída. O deputado Paulo Bernardo (PT-PR), da ala moderada, considera que o diretório nacional poderá adiar a análise da expulsão da senadora se houver um gesto público de Heloísa Helena por sua permanência no partido. “Se ela apresentar uma proposta na reunião de domingo (hoje), como pedir um tempo para repactuar o partido, todo mundo guardará as armas”, afirmou Bernardo. Outra sugestão do deputado seria Heloísa Helena telefonar para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e propor uma conversa.

Bernardo considera, no entanto, que a senadora até agora não deixou margem para ela própria recuar. “Ela foi queimando as pontes na ida e não tem como voltar”, disse. Para o deputado, se não houver o gesto público da senadora, o partido vai expulsá-la. “Nenhum desgaste vai ser pior do que a situação que estamos vivendo agora. O partido vai bancar a expulsão e depois vamos ver como resolver o desgaste que poderá surgir disso”, considera Bernardo.

Ataques

Um dos maiores obstáculos para o entendimento tem sido a postura da senadora. Tanto integrantes da DS quanto os mais ligados ao Palácio do Planalto entendem que a maneira de a senadora se expressar cria dificuldades porque ela parte para o ataque pessoal contra a cúpula partidária. No ato no Rio de Janeiro, por exemplo, na sexta-feira, ela voltou a atacar governistas.

Ao argumentar que defende as bandeiras históricas do partido, Heloísa Helena afirmou que os que votam tudo como quer o governo podem ser chamados de “medíocres, que preferem encher a pança e se lambuzar no banquete farto de cargos, prestígio e poder”. Na quinta-feira passada, seus aliados conseguiram que ela ficasse calada no ato no Salão Verde da Câmara. Consideraram ter obtido uma vitória na ocasião.

Ministros analisam e projetam governo

Brasília

– Além do polêmico assunto da expulsão dos radicais do PT, o encontro do Diretório Nacional foi destinado a examinar as diretrizes do governo de Lula para 2004. Os ministros também fizeram uma avaliação da execução das políticas econômica, social e externa do governo.

De acordo com parlamentares que participaram do encontro, fechado à imprensa, o primeiro a falar, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, fez um balanço positivo das viagens que o presidente Lula fez ao exterior. O secretário-geral do PT, Jorge Bittar, relatou que Amorim, para justificar o número de viagens internacionais feitas este ano por Lula, disse que diplomatas não substituem o papel que o presidente pode desempenhar.

Segundo o deputado Paulo Bernardo (PT-PR), o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, reafirmou em seu pronunciamento que a economia brasileira tem todas as chances de crescer. Por outro lado, o deputado Chico Alencar (PT-RJ) disse que o ministro Palocci deixou claro “que a mera política de estabilidade é insustentável para o PT”.

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