São Paulo tem 2,6 mil mulheres vivendo nas ruas

Dados da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social indicam que a população de rua da capital paulista aproxima-se de 13 mil moradores. Desse total, cerca de 20% são mulheres, o que corresponde a 2,6 mil que tiveram de optar pela realidade de viver sob pontes e marquises. “São mulheres vítimas de violência doméstica (física e psicológica), viciadas em entorpecentes ou desempregadas, cuja vida não faz mais sentido. A maioria perde por completo a identidade e a autoestima”, informa a psicóloga do Centro de Acolhida Começar de Novo, Márcia Aparecida Rodrigues, um dos locais da capital que acolhem moradores de rua.

Nem por isso algumas moradoras de rua de São Paulo têm menos coragem e independência do que a chamada mulher moderna. “Sustento os meus filhos sozinha, estudo computação e tenho um corte novo de cabelo que ficou o máximo”, conta, aos risos, Joana (nome fictício), 21 anos, que vive desde o começo deste ano no centro de acolhida Reencontro, em Santo Amaro, onde vai passar este domingo, Dia Internacional da Mulher. “Luto por um futuro seguro para mim e para os meus filhos. Agora que sei da importância do planejamento familiar, não vai ter homem que me engane de novo”, emenda.

Joana pernoita com mais 80 mulheres no albergue Reencontro, um dos poucos na cidade que atendem exclusivamente mulheres e seus filhos. As moradoras temporárias têm direito a duas refeições por dia, podem se inscrever em cursos profissionalizantes e recebem o suporte de uma equipe médica formada por psicólogos e ginecologistas. Pelo menos quatro vezes por ano, clínicas de estética oferecem serviços gratuitos às moradoras do albergue. “Elas fazem as unhas e pintam os cabelos. Adoram se embonecar”, conta a coordenadora da instituição, Cláudia Foroni Fender. “São mulheres que, apesar de todos os preconceitos que vivenciam diariamente, resolveram lutar e viver.” Segundo Cláudia, cerca de 20% das mulheres que passam pelo albergue Reencontro saem de lá empregadas e com moradia fixa.

Diferente do sexo masculino, majoritário em ruas e albergues, as mulheres costumam ser mais dependentes de seus parceiros e mais ligadas à vida doméstica. Márcia explica que, quando a mulher deixa o lar e parte para uma vida andarilha, é porque nada mais vale a pena. “Muitas mulheres podem sofrer violência doméstica e, mesmo assim, apanham caladas para não pôr a perder a vida matrimonial. No entanto, quando chegam ao ponto de deixar os filhos para trás e decidem morar nas ruas, é porque nada faz mais sentido”, argumenta.

De acordo com dados da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, um terço das pessoas que vivem na rua optam por dormir ao relento, debaixo de pontes ou sob papelões nas calçadas. Entre os motivos que fazem com que as mulheres de rua não aceitem a ajuda de albergues estão, segundo dados oficiais, a burocracia para conseguir uma vaga, a desconfiança em relação aos vizinhos nas camas e ainda a proibição de consumir álcool.

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