R$ 1 milhão para livrar cara de Severino

São Paulo – O deputado federal Gonzaga Patriota (PSB-PE) tentou subornar o empresário Sebastião Buani, chefe do restaurante oficial da Câmara, um dia antes da entrevista em que este confirmou o pagamento de propinas ao presidente da Câmara Federal, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE). A denúncia é tema de reportagem da revista IstoÉ desta semana.

Um dia antes da entrevista de Buani, Patriota, também envolvido nas denúncias, deixou um recado gravado para Buani: "Meu irmão, acalma o chefe. A gente perdoa a multa, parcela a dívida, resolve tudo. Vamos conversar". Enquanto Severino cumpria roteiro em Nova York, seus amigos que ficaram em Brasília tentaram de tudo para tampar a boca de Buani. A começar pelo líder do partido de Severino, deputado José Janene (PP-PR), que enviou um emissário para uma conversa cabalística.

Este emissário, com as mãos tremendo, desenhou o número 100 numa folha de papel e resmungou: "Esse Severino! Por causa de uma porcaria destas (R$ 100 mil), faz uma confusão deste tamanho. E isso se resolve fácil, assim". E desenhou um X e um número 10 na frente do 100, simbolizando que os 100 seriam multiplicados por 10, resultando no pagamento de R$ 1 milhão para Buani calar a boca. O empresário olhou e fingiu que não entendeu. Afinal de contas, já tinha ido longe demais e não quis se arriscar.

Os celulares dos parentes e assessores do empresário ficaram cheios de recados menos enigmáticos. Era para Buani fechar o bico, que seria recompensado. A secretária eletrônica de um deles gravou, na terça-feira, antevéspera do desastre, o de Patriota em que ele promete "perdoar a multa, parcelar a dívida, resolver tudo".

O mais devotado severinista, o deputado Benedito Dias (PP-AP), autor do pedido de cassação do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), mandou um recado a Buani, sugerindo uma licitação dirigida para renovar o contrato do restaurante com a Câmara. Seria o mesmo modelito aplicado em 2003 no restaurante do Anexo 3, que Buani perdeu de forma calculada, na gestão do petista João Paulo Cunha, para o ex-chefe da Segurança da Câmara, Gilmar Moraes Bezerra.

Renúncia

Já existe na Câmara um movimento para exigir a renúncia imediata de Severino, a partir de uma greve de plenário que vai imobilizar ainda mais um Congresso já paralisado pela crise e por três CPIs. "Severino tem que ser cassado. O PSDB quer eleger um estadista como seu sucessor", diz o secretário-geral tucano, deputado Bismarck Maia (CE). "A investigação da denúncia tem que ser extremamente rápida", cobrou o novo líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), traindo a preocupação petista com uma prolongada interinidade do PFL, na figura do primeiro vice-presidente, José Thomaz Nonô (AL). "Não podemos repetir a bobagem que já fizemos, a de eleger Severino Cavalcanti", lembra o líder tucano na Câmara, deputado Alberto Goldman (SP).

Severino antecipou em um dia o seu retorno de Nova York ao Brasil e ontem ao meio-dia já estava na residência oficial da Câmara na capital federal. Com dois carros de seguranças escoltando o seu, Severino entrou no jardim da residência e só desceu do carro depois que os portões foram fechados, para evitar a proximidade dos jornalistas.

Ele ficou o dia de ontem reunido com alguns assessores, seguranças e funcionários da residência oficial. A expectativa é que Severino dê uma entrevista coletiva neste domingo à tarde, para explicar as denúncias do empresário Sebastião Buani, de que pagou propina a ele.

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