PT convida Palocci para debater política econômica

São Paulo – Por consenso, os integrantes do Diretório Nacional do PT decidiram ontem convidar o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, para discutir a política econômica do governo Lula.

Ainda sem data marcada, o encontro da cúpula do partido com Palocci deve ocorrer no início de 2005. Na mesma reunião, o diretório aprovou uma resolução em que afirma que o PT "continuará lutando para uma redução consistente e responsável da taxa básica de juros, da taxa de juros reais e da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), utilizada pelo BNDES".

Após dedicar a primeira parte da resolução ao resultado das eleições municipais, o diretório dedicou a segunda parte do documento à economia – "Consolidar a Agenda do Crescimento e do Emprego". Além de defender a redução da taxa de juros, os petistas reafirmaram a reivindicação de que a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física seja corrigida ainda neste ano. Desde 2002, a tabela não é corrigida. O documento pede também a recuperação real do salário mínimo ao longo dos próximos anos. Antes de eleito, Lula prometia um mínimo equivalente a US$ 100 (cerca a R$ 278). O mínimo é R$ 260.

Mais ousadia

O documento expressa concordância com a condução da política econômica até o momento, mas pede ousadia do governo e de seus aliados. "Conquistadas as condições necessárias para a retomada do desenvolvimento sustentável, o governo e seus parceiros políticos precisam ser agora ousados na adoção de medidas necessárias para superar os gargalos do crescimento, adotando as orientações, os estímulos, aprovando os projetos e implementando recursos e investimentos adequados para potencializar a afirmação e a modernização da nossa economia", diz a resolução do PT.

Ao defender a continuidade da agenda do desenvolvimento que está parada no Congresso Nacional, o diretório petista afirma que o governo "precisa melhorar a interlocução com as bancadas e com os partidos aliados e estes precisam melhorar a interlocução entre si". Ou seja, o PT pede que a articulação política do governo Lula encontre "saídas adequadas para aprovação dos pontos (da reforma) pendentes". A resolução do partido afirma: "Esse sentido estratégico da aliança governamental é decisivo para que se estabeleça um novo patamar de relacionamento, fundado no compartilhamento de projetos e de perspectivas para o futuro".

As principais recomendações do PT

REDUÇÃO DE JUROS: Redução consistente e responsável da taxa básica de juros, taxa de juros reais e taxa de juros de longo prazo (TJLP) praticada pelo BNDES.

REDUÇÃO DE IMPOSTOS: Conclusão da reforma tributária, diminuindo de forma continuada e racional a carga de tributos, principalmente aqueles que incidem sobre a produção e o trabalho.

CORREÇÃO DA TABELA DO IR: Reajuste da tabela do Imposto de Renda.

SALÁRIO-MÍNIMO: Recuperação do poder de compra do salário-mínimo ao longo dos próximos anos, expressando-se já no reajuste do seu valor no próximo ano com a definição desta garantia no Orçamento de 2005.

PAUTA DO CONGRESSO: Aprovação de medidas pendentes na pauta de votação do Congresso, com destaque para as MPs relativas à Lei de Falências, Concorrência do Sistema Financeiro e o Projeto de Parcerias Público-Privadas (PPPs).

BASE ALIADA: Reorganização da base para garantir maioria na aprovação das medidas de interesse do país e da sociedade.

REFORMAS: Conclusão das reformas política, previdenciária e judiciária.

POLÍTICAS PARA A CLASSE MÉDIA: Fazer uma inflexão das políticas dos governos petistas combinando-a com diretrizes orientadas para os variados setores assalariados e das classes médias.

CORREÇÃO DE FALHAS: Adotar uma postura mais previdente no que se refere à correção de falhas, retificação de condutas e ao planejamento do futuro.

CONDUTA ÉTICA: Deixar claro às novas equipes que os governos petistas não tolerarão a corrupção e desvios de conduta (…) Manter a postura humilde, de quem serve uma causa e trabalha para o bem comum da coletividade.

"Vou com o maior prazer"

Brasília – O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, reagiu com bom humor à decisão do diretório nacional do PT, que no fim de semana aprovou um convite para que ele participe do próximo encontro para falar da política econômica do governo, alvo de críticas de algumas correntes do partido. "Vou ao PT com o maior prazer", disse o ministro, abrindo um largo sorriso.

Palocci falou rapidamente sobre o assunto enquanto esperava a chegada do presidente russo, Vladimir Putin, ao Palácio do Planalto. Sorridente, Palocci brincou com os outros ministros, pedindo que eles também falassem com a imprensa. "Falem com eles (os repórteres), eles são nossos amigos", disse Palocci.

José Genoino nega pressões

Rio – Em entrevista publicada ontem no site do PT, o presidente do partido, José Genoino, diz que não há intenção em causar constrangimento ao governo na cobrança em relação à política econômica feita na resolução do diretório nacional, no fim de semana passado.

"O PT não reivindica mais influência na política econômica. O que definimos foram prioridades como desenvolvimento com emprego e renda, modernização da infra-estrutura, queda na taxa de juros e continuidade dos programas sociais. O PT não está insatisfeito com sua participação no governo. Consideramos que temos de compartilhar mais esse espaço com os outros partidos. Não vamos causar constrangimentos ao presidente Lula na sua ação pelas reformas que o país necessita. Isso não é contraditório com a consolidação da base de apoio ampla do governo", diz Genoino.

Genoino diz, inclusive, que não se trata exatamente de um convite ao ministro da Fazenda, já que Antônio Palocci é membro do diretório nacional do PT.

João Paulo defende mudanças

São Paulo – O presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), concorda com o resultado da reunião do Diretório Nacional do PT, realizada no final da semana em São Paulo, que pediu mudanças no governo Lula, mas adverte que há uma tendência exagerada à crítica logo após as eleições.

"É evidente que a política econômica, depois de dois anos, tem de sofrer ajustes", afirmou domingo à noite o deputado petista durante entrevista ao programa Canal Livre, da Rede Bandeirantes.

"Como nós (PT) não temos coisas positivas em algumas áreas, em particular na social, para dar combustível para a nossa militância, a gente se agarra na crítica", explicou o presidente da Câmara. Porém emendou, "de fato, não dá para se praticar dois déficits nessa política econômica de forma simultânea: aumentar os juros e o superávit. Nós vamos ter que folgar em um".

Embora procurando poupar o ministro Patrus Ananias, João Paulo criticou os resultados na área social do governo Lula. "Não adianta creditar a uma pessoa a eventual dificuldade de apresentar resultados na área social. O problema é que nós não estamos com foco", disse ele.

O presidente da Câmara citou como exemplo as marcas implementadas no setor durante a campanha de Marta Suplicy. "Ela perdeu a eleição, mas nunca mais vai perder a bandeira de que foi a prefeita que construiu os CEUs, ela nunca mais vai perder a bandeira de que fez o bilhete único".

Quanto à alegação da prefeita Marta Suplicy de que a política econômica teria sido responsável por sua derrota, o presidente da Câmara foi enfático: "Eu acho uma injustiça. Não tem nada a ver", disse. Em sua opinião, a derrota em São Paulo foi uma soma de pequenos erros, como a criação de novas taxas. "A política econômica e o governo do presidente Lula não elegeram ninguém, não derrotaram ninguém. Não há correspondência entre o cenário nacional e as eleições municipais".

João Paulo garantiu ainda que a proposta de sua reeleição à Presidência da Câmara é coisa do passado.

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