Preço do aço pode prejudicar indústria naval, alerta presidente da Transpetro

Rio de Janeiro – A indústria naval brasileira vive um de seus melhores momentos nos últimos 20 anos, com a reativação de estaleiros que estavam quase falidos, a criação de novas empresas e a contratação de milhares de trabalhadores especializados que haviam perdido os empregos. O setor que chegou a ter somente 2 mil funcionários há sete anos, hoje emprega 36 mil, devendo chegar a 40 mil em 2008. Mas esta euforia, que começou em 2003, com a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de construir plataformas e navios da Petrobras no Brasil ? antes eram feitos no exterior ? corre o risco de sofrer uma desaceleração, por causa do preço do aço usado nas embarcações, que chega a custar aqui 30% a mais do que é vendido no exterior.

O aço responde por cerca de 22% do custo final de um navio. A possibilidade do setor enfrentar um gargalo de crescimento pelo alto custo do aço vem sendo denunciada pelo presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que não aceita pagar mais pelo produto no mercado interno do que é vendido no exterior. Para ele, é inadmissível que o Brasil ponha em risco um programa como o da indústria naval, principalmente quando o país é um dos maiores produtores mundiais de minério de ferro. A disputa ocorre entre a Transpetro, que sacudiu o mercado ao anunciar o Programa de Modernização e Expansão da Frota – a compra de 42 navios de grande porte, sendo 26 deles já licitados e prontos para serem iniciados -, e a Usiminas, única siderúrgica brasileira que fornece a chamada chapa grossa, usada em navios e plataformas.

A encomenda da Transpetro – subsidiária da Petrobras encarregada pela logística e transporte de petróleo, gás e derivados – injetou, só neste primeiro momento, R$ 1,9 bilhão no setor. E o segundo lote de encomendas deve ser anunciado em breve, com pelo menos outros 16 navios. Para Sérgio Machado, se a Usiminas insistir em manter o preço do aço nas alturas, a única saída vai ser importar o produto. ?Nós queremos que os nossos estaleiros sejam competitivos, de forma que comprem o aço pelo mesmo preço que o coreano, o chinês ou o japonês. Nós faremos tudo para comprarmos o aço do Brasil, mas se as siderúrgicas não chegarem ao preço internacional, nós vamos importar. O preço vendido aqui é mais caro do que lá fora?, aponta o presidente da estatal.

A guerra contra o preço do aço foi endossada pelo secretário estadual de Desenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro, Júlio Bueno, que adiantou que deve adotar medidas para facilitar a importação de aço para os estaleiros, como a redução a zero do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). ?Nós vamos dar competitividade igual para o aço importado e o produzido no Brasil. Isso porque o aço aqui está mais caro. A perspectiva de crescimento da indústria naval é fundamental. Então tem que ter um acordo, para que o valor aqui seja o preço internacional. Ninguém está pedindo para o preço ser menor?, disse Bueno. A medida precisa ser aprovada pelo governador do estado, Sérgio Cabral, para zerar a alíquota de importação do aço.

Segundo levantamento feito pela assessoria do secretário Júlio Bueno, uma chapa grossa com 6,5 milímetros de espessura, por 2,75 metros de largura e 12 metros de comprimento custa US$ 1.025 no exterior (já com o frete), contra US$ 1.442 cobrados pela Usiminas ? uma diferença de 29%. E foi a vantagem de importar o aço para navegação que motivou o estaleiro Aker-Promar, especializado na construção de navios de apoio, a comprar cerca de 4 mil toneladas do produto na Romênia, em vez de adquirir da Usiminas. Segundo o diretor da empresa, Wanderley Marques, a economia ? já descontando o valor do frete – foi ao redor de 15%. ?Hoje é melhor importar. O preço do aço subiu barbaramente. Se não resolver este problema, vamos ter que importar o produto, pois não é possível que o preço que [a Usiminas] coloca lá fora seja mais barato do que o vendido aqui.

De acordo com o diretor do Aker, para um navio pequeno, que usa até mil toneladas de aço e custe US$ 30 milhões, a diferença no preço do produto representa cerca de US$ 100 mil, o que pode não compensar a importação, que requer toda uma burocracia para se concretizar. Mas, segundo ele, para uma embarcação que pese mais que 3 mil toneladas de aço, essa diferença chega a US$ 1 milhão, o que deixa a empresa fora do orçamento inicial oferecido ao cliente. ?Essa diferença vai consumir parte do lucro e até gerar prejuízo. O preço subiu muito rápido e quando se fez o orçamento não se contemplou o aumento. Pode representar um gargalo às empresas?, alerta o diretor do Aker-Promar.

A Usiminas foi procurada pela reportagem para falar sobre o assunto, mas a assessoria de comunicação da empresa disse que o grupo não iria se manifestar.

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