População indígena cresce 150% em uma década

Em apenas uma década, a população indígena no Brasil passou de 294 mil para 734 mil, um aumento de 150%, com crescimento médio anual da ordem de 10,8%, bem acima da taxa de 1,6%, também ao ano, no número de brasileiros como um todo, independentemente da raça ou da cor.

A diferença de 440 mil índios a mais no País supera todas as expectativas e surpreendeu não apenas aos especialistas do IBGE responsáveis pelos números, mas também a própria Fundação Nacional do Índio (Funai).

"Existem algumas hipóteses, mas nenhuma delas sozinha seria capaz de explicar tamanho crescimento populacional em tão pouco espaço de tempo", admitiu Nilza de Oliveira Pereira, coordenadora do estudo "Tendências Demográficas: Uma Análise dos Indígenas", divulgado hoje pelo IBGE. "Certeza mesmo é que a invisibilidade dos índios no Brasil diminuiu bastante", definiu a antropóloga Maria Elizabeth Brêa, representante da Funai e que também assina a publicação.

O trabalho foi feito com base nas informações colhidas nos censos demográficos de 1991 e de 2000 e contou também com a colaboração de antropólogos, sociólogos e epidemiologistas de entidades não ligadas ao IBGE. Muitas das informações contidas no documento são inéditas e pela primeira vez aparecem reunidas em uma única publicação.

Mas apesar de sua importância para o melhor conhecimento das questões indígenas é provável que desperte polêmicas, principalmente pela falta de explicações precisas e pelo excesso de "hipóteses não excludentes" para justificar o fenômeno. "Certamente, não se trata de um efeito demográfico", descartou Nilza de Oliveira.

De acordo com os dados do IBGE, apenas 45% das pessoas que se autodeclaram índios em 2000 residiam nas 604 terras indígenas reconhecidas pelo governo federal, distribuídas em 437 municípios e que juntas representam 12,5% do território brasileiro.

A imensa maioria dessas áreas estão localizadas na chamada Amazônia Legal, que compreende todos os Estados da Região Norte, além de Mato Grosso e parte do Maranhão. Os números do IBGE, no entanto, revelam uma outra geografia: em 2000, existia pelo menos um índio em 65% dos municípios brasileiros, o que corresponde a algo em torno de 3.500 cidades.

Embora em ritmo variável, o crescimento do número de índios entre os dois recenseamentos ocorreu em todas as grandes áreas pesquisadas pelo IBGE, mas a maior de expansão foi registrada no Sudeste, 20,5% ao ano (quase o dobro da média nacional) e a menor, na Região Norte (6,2%).

A diferença no ritmo de crescimento provocou mudanças na geografia indígena. Em 1991, a Região Norte concentrava 42% dos índios existentes no País, enquanto o Sudeste respondia por 10,4% do contingente total.

Dez anos depois, a participação relativa da Região Norte caiu para 29% e subiu para 22% no Sudeste, que passou a abrigar 161 mil índios, mais de cinco vezes a quantidade registrada no início da década passada. Em 2000, pelos dados divulgados pelo IBGE, São Paulo (64 mil) e Minas Gerais (49 mil) concentravam uma população indígena semelhante a do Amazonas (115 mil), individualmente o Estado com o maior contingente de índios em todo o País.

A participação do Sudeste nos números divulgados hoje pelo IBGE pode ser medida também por uma outra forma: entre os 20 municípios que abrigam as maiores populações indígenas, São Paulo (18,6 mil) e Rio de Janeiro (15,6 mil) ocupam, respectivamente, a terceira e a quarta posições, superados apenas pelos municípios de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas com 22,5 mil, e Salvador (BA), com 18,7 mil pessoas que se autodeclararam índios no último censo demográfico realizado pelo IBGE.

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