Polícia Federal vai indiciar advogados do tráfico

Rio

– A Polícia Federal vai indiciar advogados de traficantes que estejam recebendo dinheiro sujo de seus clientes como pagamento de honorários. O delegado titular da Delegacia de Prevenção e Repressão a Entorpecentes, Antônio Rayol, quer fazer valer a Lei 9.613, de 1998, que pune a ocultação de valores provenientes de atividades criminosas. Para isso, enviou à Secretaria Geral da Presidência da República um projeto de lei que proíbe criminosos sem renda comprovada de contratarem serviços de advogacia privada. A proposta é que, nesse caso, o réu seja assistido pela Defensoria Pública.

O projeto de lei proposto pela PF cita como exemplo o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, que nunca comprovou ter uma fonte lícita de renda e mantém 19 advogados. “Dinheiro não tem cheiro. Pouco me importa saber a procedência do dinheiro. Quero é receber os meus honorários”, diz o advogado Lydio da Hora, que representa o traficante em 18 processos criminais. Para o delegado Rayol, o ato é uma violação da lei e deve ser punido. Segundo ele, já existe um inquérito aberto que investiga lavagem de dinheiro de Beira-Mar envolvendo seis advogados. Alguns deles têm propriedades em seus nomes, em que moram parentes de Beira-Mar: “Isso é imoral e ilegal e todos serão interrogados. É pegar dinheiro sujo e jogar no sistema financeiro. É inaceitável que advogados de criminosos como o Beira-Mar e o Elias Maluco digam que não sabiam que o dinheiro que recebem tem origem no crime organizado. É muito cinismo. São bandidos que notoriamente sempre viveram do tráfico de drogas e deveriam estar com um defensor público, como outros réus que não têm renda”.

Para a coordenadora da Central de Inquéritos da Procuradoria Geral de Justiça, Mônica di Piero, há indícios importantes do envolvimento de advogados com traficantes. Ela lembrou que, durante a Operação Camisa Preta, que investigou a quadrilha de Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, quatro advogados foram denunciados por associação para o tráfico: João Bosco Won Aielo, Rita de Cássia, Fabiano Gomes e Rui Gomes Ribeiro.

Para o secretário estadual de Administração Penitenciária, Astério Pereira, advogado que recebe dinheiro ilícito está contribuindo para o crime: “No mínimo a postura não é nada ética”, criticou.

Semana passada, o secretário encaminhou à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) uma relação de 19 advogados que visitam com regularidade suspeita os presídios Bangu I, III e IV. Ali só há presos da facção criminosa comandada por Beira-Mar. A lista, encaminhada ao Ministério Público, diz que num mesmo dia eles visitam diferentes unidades.

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