Planalto tenta sabotar a CPI dos correios

Arquivo / O Estado

Lula e Severino temem os efeitos da
CPI sobre o governo e o Congresso.

Brasília – O governo conseguiu ontem avançar um pouco na sua tática de esvaziar a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) mista que vai investigar as denúncias de corrupção nos Correios. Quatro deputados do PL encaminharam ofício à Mesa Diretora do Senado pedindo a retirada do seu endosso no requerimento de criação da CPI.

Os deputados que retiraram suas assinaturas foram Inaldo Leitão (RN), Hamilton Casara (RO), Wellington Roberto (PB) e Wellington Fagundes (MT). O deputado João Paulo Gomes da Silva (PL-MG) chegou a encaminhar requerimento para retirar sua assinatura, mas depois voltou atrás. O PL é um dos principais partidos da base aliada ao governo e além da vice-presidência da República, com José Alencar, ocupa o ministério dos Transportes, com Alfredo Nascimento.

Alencar chegou a afirmar que se ainda fosse senador assinaria o pedido de criação da CPI. Muitos deputados do PT confirmaram que foram procurados com pedidos para que retirassem o endosso. "Retirar não vou. Defendo uma apuração profunda do caso", afirmou o deputado Walter Pinheiro (PT-BA). O prazo para retirada ou para a inclusão da assinatura vai até quarta-feira pela manhã. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) fechou com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), um acordo para que o ato de criação da CPI seja lido em sessão conjunta do Congresso neste dia.

Pressão

Os líderes apelam a deputados dos partidos aliados para que retirem assinaturas com o argumento de que a CPI destinada a apurar as denúncias de suposta cobrança de propina nos Correios será um risco para o governo, responsável pelas nomeações na administração federal. Para instalar uma CPI, é preciso ter a adesão mínima de 171 deputados e de 27 senadores. Anteontem, a solicitação entregue tinha as assinaturas de 222 deputados e 46 senadores.

Essa guerra entre Executivo, que deseja esvaziar a comissão, e oposição, que busca ampliar a margem de apoio à proposta, será travada até a publicação do requerimento no Diário do Congresso, o que acontece depois da leitura. Depois dela, Calheiros poderá fixar uma data para que os deputados e senadores retirem os nomes do pedido ou o assinem, antes de a lista seguir para a gráfica.

O governo trabalha com dois cenários diante das dificuldades na operação desencadeada para tentar evitar a criação da comissão. O primeiro deles é o de ainda tentar reverter a CPI. Mas para isso, na avaliação de interlocutores da administração federal na Câmara, será necessário conseguir que pelo menos 60 deputados que assinaram o requerimento de criação da comissão retirem as assinaturas a fim de ter uma margem de segurança.

Os governistas afirmam acreditar que o PSDB e o PFL têm outras adesões guardadas para repor eventuais retiradas. O segundo panorama é para o caso de a operação de retirada de adesões não dar certo e o Poder Executivo ter de enfrentar a CPI. Nessa situação, segundo interlocutores do Executivo no Legislativo, a estratégia será atuar para assegurar que a CPI fique restrita à denúncia e que as investigações não se estendam a nenhum outro setor do Palácio do Planalto.

Caso arranha mais a imagem dos políticos

Rio – Quem ganha e quem perde com a CPI dos Correios, cujo pedido de criação foi protocolado pela oposição na quarta-feira? Na opinião do cientista político Zairo Cheibub, o caso arranha ainda mais a imagem já desgastada da elite política brasileira e a lista dos que perdem é extensa. Nela estão o Congresso, com mais um fato político negativo envolvendo parlamentares; o governo, pelo fato de o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), citado como suposto participante do esquema de corrupção, ser da base governista; o próprio deputado; o partido dele; e a sociedade, que mais uma vez é forçada a enfrentar uma rotina de acusações e sujeira.

Mas, destaca Cheibub, daí pode também sair algo positivo: "Se o Congresso conseguir levar as investigações até o fim, mesmo sem grandes punições, mostrará que não agiu corporativamente. É uma retomada da credibilidade". Para outro cientista político, Luiz Henrique Bahia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a abertura da CPI traz mais desgaste ao governo, que vem sofrendo várias derrotas, como a do episódio da Medida Provisória 232 e o da indicação para o Tribunal de Contas da União (TCU).

"Nesse sentido, o Congresso está paralisado, reagindo a um governo de medidas provisórias. É uma crise de governabilidade que está gerando paralisia nas decisões entre o Executivo e o Legislativo. Isso é ruim para o governo e para a sociedade. É um momento difícil que estamos atravessando, sem coordenação política, com desrespeito do próprio PT em relação às ações do presidente."

Dependendo da repercussão da CPI, ela será mais um fator complicador para o governo, complementa Zairo Cheibub. "Se a comissão tiver uma grande repercussão, os trabalhos no Congresso vão girar em torno dela, com negociações políticas. É uma perda geral, é ruim para o país", diz Zairo.

 

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