Rio
– A vantagem de 20 pontos percentuais do candidato petista à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre os demais na última pesquisa do Ibope garante a sua passagem para o segundo turno, mas não a vitória no primeiro. Uma análise mais detalhada dos números leva cientistas políticos a apostarem que para Lula seria mais fácil enfrentar Ciro Gomes (PPS), do que José Serra (PSDB) no segundo. Eles ressalvam que, embora Serra tenha vantagem de quatro pontos sobre Ciro, ainda não se pode afirmar quem seria o adversário de Lula.Especialistas garantem que a vitória do petista no primeiro turno é possível, mas não provável. A conjuntura favorável a Lula no primeiro turno certamente não se repetirá no segundo, mas pode desaparecer agora se realmente Serra se consolidar na segunda posição. “Lula nunca teve cenário tão favorável. Seus dois concorrentes principais disputam votos na mesma área e travam uma luta acirrada. Além disso, há um desgaste da situação após oito anos de governo”, diz a cientista política Alessandra Aldé, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro.
Se a tendência mostrada pelas pesquisas se confirmar nas próximas sondagens e Serra abrir distância em relação a Ciro, este cenário pode mudar. A candidatura do tucano já aposta numa polarização com o petista, apesar de ele estar 20 pontos atrás de Lula. Na semana passada ele passou a usar boa parte do tempo da propaganda na TV para anunciar que a disputa passou a ser com Lula e não mais com Ciro. “A campanha de Serra quer polarizar. O primeiro turno seria o espaço para o voto sincero, enquanto o segundo daria margem à estratégia do eleitor. Porém, no Brasil, os eleitores tradicionalmente fazem o voto útil já no primeiro turno dependendo dos resultados das pesquisas eleitorais. Isso pode beneficiar Serra”, diz Luiz Lourenço, cientista político do Iuperj.
Em 1994, Fernando Henrique Cardoso venceu a eleição com 44,09% dos votos. Em 1998, o presidente venceu com 43,14% destes votos. Lula conseguiu 39% na última pesquisa do Ibope. Porém, Lula, mesmo liderando em todos os segmentos do eleitorado, ainda enfrenta relativas dificuldades em alguns setores.
Segundo os especialistas, um dos grandes problemas de Lula é o eleitorado feminino. Entre as mulheres, Lula tem 46% contra 43% do tucano, um empate técnico. “Nos nossos estudos qualitativos, chegamos à conclusão de que a propaganda eleitoral de Serra fez dele o candidato mais simpático”, revela Lourenço. O cientista político lembra também do histórico de adversários feridos pela máquina de marketing da candidatura Serra. “Ser inimigo de Serra tem sido um mau negócio. Roseana Sarney e Ciro Gomes, que caiu vários pontos nas pesquisas, são exemplos”, diz.
“Na hipótese de Lula e Serra chegarem ao segundo turno, o PT deve tentar deslocar a candidatura de Serra para a direita, para disputar os votos do centro. Deve ligá-lo ao governo”, afirma Paulo Peres, da USP. A maior novidade da segunda fase do processo eleitoral serão os ataques contra Lula, até agora poupado na maior parte da campanha devido à luta entre Serra e Ciro pela vaga no segundo turno. “A rejeição de Lula é seu maior problema”, diz Lourenço, do Iuperj.