Ministros choram a falta de dinheiro

Brasília – Todos os ministros sentiram a violência dos cortes no Orçamento, anunciados sexta-feira pelos ministros da Fazenda, Antônio Palocci, e interino do Planejamento, Nelson Machado. Mas alguns, além de sentir, botaram a boca no mundo, como os ministros da Cultura, Gilberto Gil, e do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto. Este, por exemplo, viu reduzidos os recursos de sua pasta de R$ 3,7 bilhões, para R$ 1,6 bilhão. Gilberto Gil esperneia porque perdeu R$ 280 milhões e diz que quer um Orçamento de verdade. Gil disse que o corte em sua pasta foi de 53%.

Para Rosseto, "os cortes brutais" poderão agravar ainda mais o quadro de violência no campo no Pará, impedindo a adoção de medidas para "estabilizar a situação", como as que o governo anunciou logo após o assassinato da missionária Dorothy Stang há duas semanas. "Os cortes são brutais. A sua magnitude vai fazer com que nenhum dos programas do ministério seja preservado. É preciso clareza em relação aos programas prioritários", disse o ministro. Segundo Rosseto, o dinheiro liberado para ser gasto ao longo de 2005 só dará para assentar 40 mil famílias, quando a meta era 115 mil. O que sobrou é 25% a menos do que foi executado no ano passado, quando o governo também não cumpriu as metas no setor.

Gilberto Gil é outro que não se conforma: "Vamos mobilizar a República para que ela tenha um Orçamento de verdade. Todo mundo reclama, mas ninguém faz nada para que se possa ter um Orçamento para valer. Viemos falar isso com Renan Calheiros, que está muito interessado na questão e que vai começar esse processo agora". O ministro dividiu sua preocupação com o presidente do Senado, que lhe contou do esforço que o Legislativo pretende fazer este ano para alterar as regras de tramitação do Orçamento da União. Esse poderá ser o primeiro passo para garantir que a proposta aprovada pelo Congresso deixe de ser apenas autorizativa. Falamos sobre os cortes e fizemos reflexões sobre o que deve ser feito no âmbito geral do governo e da sociedade brasileira para aperfeiçoar os mecanismos de elaboração orçamentária. É preciso que o Orçamento seja uma peça em que o que o Executivo manda para cá seja para valer", disse Gil.

Mas o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, minimizou as críticas dos ministros. "Não vejo como críticas; vejo como expectativa do setor de conseguir mais recursos", afirmou Palocci. Ele disse que é legítima essa expectativa, mas destacou que os recursos para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que são usados para manter as famílias no campo, cresceram mais de 100% na última safra e devem repetir o crescimento na produção agrícola atual.

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