Mercado espera anúncio que Lula ainda não fez

São Paulo

(AG) –  O economista Affonso Celso Pastore atribuiu a instabilidade que agitou o mercado financeiro na última semana ao receio dos investidores sobre o programa econômico do próximo presidente. Segundo ele, não existe falta de confiança no atual governo, mas no próximo. Ele critica os candidatos a presidente, que ainda não apresentaram projetos concretos de administração. A cobrança mais dura é endereçada ao pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas. Pastore diz que, se Lula “assumir um compromisso crível com a estabilidade”, a crise tende a cessar. A vulnerabilidade atual, diz Pastore, não é culpa da oposição, mas a solução depende de austeridade.

Segundo Pastores, o problema é a falta de informação sólida sobre o regime econômico do próximo presidente. Ele diz que em outros países emergentes, há um movimento de redução das cotações do dólar e do risco-país e que isto não acontece no Brasil. “A partir de abril, o mercado passou a ficar mais pessimista com relação às possibilidades de eleição do candidato do governo. Ao mesmo tempo, cresceram as incertezas sobre o risco intrínseco do candidato da oposição que lidera as pesquisas, o candidato do PT”, diz Pastore.

As opiniões de Pastore, de uma forma geral, se assemelham à de outro especialista em economia brasileira e ex-ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega. Mas não converge com a de Delfim Netto, para quem o grande problema esta na desconfiança do mercado em relação a capacidade do governo federal de honrar seus empréstimos internos. Pastore, no entanto, acredita que a questão do PT é importante. Para ele, o investidor não tem a menor idéia de como será o comportamento petista na condução da economia, uma vez que o partido não tem uma linha unitária e centralizada sobre os temas mais importantes.

Pastore destaca que o PT carrega mujitas contradições internas, que dificultam que tenha uma linha geral que possa ser compreendida por quem esteja do lado de fora. “É um partido formado por confederações de ideologias, que não conseguem chegar a uma formulação única sobre sua política econômica”, diz Pastore. Mas o problema pode ser contornado quando “o Lula assumir um compromisso crível de que vai manter a estabilidade e a solvência da dívida, não vai impor um default (calote)”. Se Lula fizer isto, acredita Pastore, “a crise atual desaparece”. Pastore critica principalmente “a forma frouxa com que o PT tem se posicionado em relação à solvência do país”.

Ele observa, que o problema não é somente Lula. Há ainda a questão conjuntural. “A economia brasileira ainda é vulnerável. No fronte externo, somos dependentes de recursos maciços para financiar o balanço de pagamentos. A vulnerabilidade número dois se refere à relação dívida-PIB, que chega hoje a 53%. E 40% disso estão indexados ao dólar. Se o câmbio deprecia, como acontece agora, a dívida cresce”, diz Pastore. E quem construiu isso não foi a oposição, “foi o atual governo”. Mas uma forma de se enfrentar essa vulnerabilidade é reafirmar o compromisso com a solvência do país, com políticas fiscais absolutamente austeras. O problema é que “todos os candidatos a presidente têm dito que vão aumentar os investimentos sociais e fazer a reforma tributária, mas nenhum disse com clareza que o aumento da austeridade fiscal é necessário para o equilíbrio da economia”. Pastore diz não ter dúvidas de que a percepção de risco poderá cair quando o novo presidente mostrar uma política econômica consistente. “Não haveria um constrangimento maior para rolar a dívida interna”, diz. Ele afirma que não adianta ficar criticando o mercado: “O mercado não impõe nada. Ele só reage ao programa dos candidatos”.

Lula cai, Serra sobe e se isola em 2.º

São Paulo

(Das agências) – A tendência de crescimento do pré-candidato do PSDB, José Serra, constado nas últimas pesquisas, foi confirmado ontem na mais nova pesquisa do instituto Datafolha. A pesquisa também confirma as de outros institutos que mostram uma pequena queda de Lula. Serra ganhou quatro pontos percentuais desde 14 de maio, passando de 17% para 21% das intenções de voto, assumindo de forma isolada a segunda posição na corrida eleitoral. O pré-candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva continua liderando a disputa, mas perdeu três pontos, caindo de 43% para 40%. A pesquisa foi realizada sexta-feira.

Serra já ocupara o segundo lugar de forma isolada em abril, mas no levantamento feito dia 14 de maio aparecia empatado tecnicamente com Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS). A pesquisa realizada dia 7 deste mês, sexta-feira, é a primeira de intenção de voto para presidente realizada pelo Datafolha após a indicação da deputada federal Rita Camata (PMDB-ES) para vice do pré-candidato José Serra. Esta pesquisa mostra que Serra conseguiu encurtar em sete pontos percentuais a diferença com Lula, uma vez que subiu quatro pontoe e Lula caiu três.

A pesquisa revela, aliás, que 36% atribuem muita importância ao nome do candidato a vice-presidente na decisão de seu voto; essa taxa sobe para 41% entre os que pretendem votar em José Serra. Atribuem um pouco de importância ao nome do vice 26%; para 31% o nome do vice não tem nenhuma importância na escolha do candidato à Presidência. A margem de erro para esse levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, considerando-se o total da amostra. O Datafolha ouviu 2793 eleitores brasileiros em 171 cidades do país.

O pré-candidato do PSB, Anthony Garotinho, oscilou de 15% para 16%, e Ciro Gomes (PPS), que despencou de 14% para 11% das intenções de voto. Os dois são respectivamente terceiro e quarto lugares na corrida, apesar de tecnicamente serem considerados embolados no terceiro lugar. Enéas atinge 2% das menções. Votariam em branco ou anulariam o voto 5% dos entrevistados, mesmo percentual dos que se declaram indecisos.

Nesta são resgistradas em vários estratos da população váriações positivas para Serra em proporção similar às variações negativas para Lula. Entre as pessoas mais pobres (com renda familiar até cinco salários mínimos mensais) Lula perdeu quatro pontos (foi de 43% para 39%), enquanto Serra ganhou cinco (passou de 17% para 22%). Entre os eleitores com idade entre 35 a 44 anos Lula caiu de 47% para 40% e Serra passou de 17% para 24% das intenções de voto; já entre os que têm mais de 60 anos Lula passou de 41% pra 36% enquanto Serra foi de 18% para 24%. O desempenho de Lula também piorou entre os eleitores que moram nas cidades localizadas no interior: nestas localidades a taxa de intenção de voto no petista foi de 44% para 39%, enquanto a de Serra foi de 18% para 24%.

Levando-se em consideração a região do país percebe-se que Lula perdeu oito pontos percentuais nas regiões Norte e Centro-Oeste (caiu de 48% para 40%) e cinco pontos no Sudeste (passou de 39% para 34%). Serra passou de 12% para 20% no Nordeste e de 17% para 23% nas regiões Norte e Centro-Oeste.

Voltar ao topo