Lula manterá composição partidária do ministério

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu não alterar a composição partidária do governo na substituição de ministros que terá de fazer até 31 de março, último prazo para a saída dos que vão disputar algum cargo na eleição de outubro. Assim, ministérios hoje do PMDB, como os das Comunicações, de Minas e Energia e da Saúde, continuarão com o partido, mesmo que seus titulares deixem o posto para buscar a sorte na eleição.

Essa decisão do presidente Lula foi motivada pelo fim da verticalização, que obrigava as chapas nos Estados a obedecerem a composição federal, conta um assessor do Palácio do Planalto. A coincidência das coligações foi derrubada pelo Congresso durante a convocação extraordinária. Com isso, mesmo que uma parte do PMDB atue de outro lado, uma outra deverá ficar ao lado do presidente Lula, como sempre acontece com o partido.

Lula decidiu também não substituir os políticos por técnicos sem vínculo partidário. Se o cargo é de um político, para o lugar vai um político. A exceção – pelo menos por enquanto – é a Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos (ECT), pivô da maior crise política enfrentada pelo governo petista.

Tradicional feudo de políticos, pelo menos enquanto durar a CPI dos Correios e as investigações do Ministério Público e da Polícia Federal sobre o "valerioduto", os Correios continuarão nas mãos dos técnicos que substituíram a antiga diretoria, que desabou depois das denúncias do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) a respeito da existência do "mensalão".

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador Romero Jucá (PMDB-RR), além do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), todos da ala governista, lutam para ratear a diretoria que virá, com nomes de pessoas a eles ligadas politicamente, em substituição à atual. Mas eles têm esbarrado na resistência do ministro das Comunicações, Hélio Costa, que é do PMDB, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, que preferem manter no cargo de presidente o técnico Jânio Cezar Luiz Pohren.

Um auxiliar do presidente Lula lembra que apesar dos tempos difíceis, desde que a nova diretoria tomou posse, os Correios não se envolveram em nenhum escândalo. Pelo contrário.

A empresa teve lucros, apesar da crise em que se envolveu, e dos R$ 8 bilhões gastos em operações que apareciam como suspeitas e que foram investigadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), hoje só estão sob auditoria R$ 130 milhões. É provável que outros R$ 100 milhões saiam da lista de suspeição, restando R$ 30 milhões para um exame mais apurado do TCU.

Dos atuais 35 auxiliares diretos do presidente Lula – ministros e secretários -, 7 entre 9 devem disputar algum cargo eletivo em outubro. O vice-presidente José Alencar (PRB), ministro da Defesa, já comunicou ao presidente Lula que quer sair até 31 de março. Se disse disposto a fazer novamente a dobradinha com o presidente, desde que isso lhe seja benéfico, claro.

Caso contrário, Alencar aceita até ser candidato a deputado federal pelo PRB. Acha que com isso pode puxar os votos da Igreja Universal do Reino de Deus, à qual seu partido é ligado.

Quem está envolvido numa engenharia difícil é o ministro Hélio Costa. Caso o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), não seja candidato à reeleição, e dispute, por exemplo, o mandato de senador, Costa tem a promessa de que dele terá o apoio. Mas Aécio está sendo bem avaliado pelos eleitores de Minas. Se aparecer como a terceira via dos tucanos para disputar a Presidência da República, Costa deverá ficar quieto no ministério, porque pretende marchar com o presidente Lula na eleição.

O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, deverá ser substituído no cargo pelo ex-presidente do PT e ex-ministro da Educação Tarso Genro. Wagner ainda não tem a aprovação do presidente Lula, mas articula uma frente dos partidos de oposição na Bahia.

Se conseguir repetir a ampla aliança que elegeu João Henrique (PDT) prefeito de Salvador, acha que tem condição de derrotar o candidato que for apoiado pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), provavelmente o governador Paulo Souto. Nessa frente poderia entrar até o PSDB.

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