Lula leva dez para falar com Bush

Washington – Acompanhado por uma delegação de dez ministros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ontem à noite a Washington para uma visita de trabalho de 27 horas que pode tanto marcar o início de um período de aprofundamento das relações entre o Brasil e os Estados Unidos como frustrar as expectativas que criará.

O encontro de mais de duas horas que Lula terá hoje com o presidente George W. Bush é significativo por várias razões. Ele reúne dois políticos ideologicamente opostos, mas que têm conduzido o diálogo bilateral com grande pragmatismo. Lula é o primeiro líder de um país que não apoiou os Estados Unidos na recente invasão do Iraque a ser recebido na Casa Branca. O formato do encontro é inédito nas relações entre os dois países: além da conversa reservada de meia hora no Salão Oval, os dois presidentes terão uma reunião com membros de seus respectivos gabinetes e almoçarão juntos.

Embora não esteja prevista uma entrevista coletiva dos dois líderes, o ritual é tratado pelos dois governos como uma reunião de “cúpula”, que é simbolicamente importante, pois sinaliza o desejo do governo americano de diferenciar o encontro e reconhecer o papel do Brasil de líder regional, uma antiga ambição da política externa brasileira. “Esta é uma visita muito importante”, afirmou ontem a embaixadora americana no Brasil, Donna Hrinak, que foi e continua a ser figura-chave na decisão que Washington tomou, em 2002, de buscar um bom relacionamento com Lula. Um dado estranho da visita, no entanto, é a ausência na agenda do presidente de qualquer compromisso público, que sugere a falta de apetite do Palácio do Planalto para falar a platéias americanas e ampliar o leque de interlocutores do País nos EUA.

Donna afirmou que o encontro de presidentes e ministros “não será uma cúpula sobre a Alca”, referindo-se ao projeto de criação da Área de Livre Comércio das Américas até janeiro de 2005, que é meta prioritária de Washington no hemisfério, mas não necessariamente de Brasília.

Lula e Bush devem divulgar uma declaração conjunta, ao final da reunião, identificando as áreas que consideram prioritárias para a cooperação. Paralelamente, serão firmados cinco acordos de cooperação entre os dois países. Um deles criará um “grupo para o crescimento” e formalizará consultas regulares sobre política econômica a nível do subsecretários do Tesouro dos Estados Unidos, John Taylor, e o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Otaviano Canuto.

Será criado um grupo consultivo entre os Ministério de Agricultura dos dois países. Os dois governos firmarão também um acordo de cooperação em política de energia nuclear, na área do Ministério da Ciência e Tecnologia.

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