Lula encontra resistência em Kadafi

Trípoli (Líbia) – Na mais polêmica das etapas do roteiro ao Oriente Médio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrou no “companheiro e amigo” Muamar Kadafi, ditador da Líbia desde 1969, a única resistência à proposta de promover o estreitamento das relações entre o mundo árabe e a América do Sul. Lula havia recebido a aprovação da Síria, Líbano, Emirados Árabes Unidos e Egito – os países da região que visitou desde o dia 3. Durante o jantar oferecido por Kadafi a Lula, anteontem, o governante líbio deixou clara a orientação da política externa do país para a África e defendeu, como alternativa, uma reunião de cúpula mais ampla, entre os países desse continente e os da América Latina.

Contrariado, Lula rebateu a idéia, afirmando que um encontro de 50 a 60 líderes africanos e latino-americanos não seria uma reunião, mas uma assembléia, conforme os relatos do assessor especial para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e do ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia. O presidente teria ainda argumentado com Kadafi que o momento atual é de “agir” e que a melhor opção para os países sul-americanos e árabes seria se apoiarem mutuamente. Mas acrescentou que conversariam mais profundamente no dia seguinte.

Nenhum dos membros da comitiva declarou se Lula conseguira convencer Kadafi a alterar os planos para a órbita internacional. No segundo encontro com o líder líbio, no fim da manhã de ontem, numa tenda militar, Kadafi deixou claro para Lula que está se movendo em direção à normalização das relações da Líbia com os Estados Unidos, segundo Garcia.

Menos de 24 horas antes, no Cairo, Lula havia criticado novamente os Estados Unidos, desta vez num almoço com representantes dos países da Liga Árabe. Nessa ocasião, afirmara que a invasão do Iraque pelas forças lideradas pelos Estados Unidos fora um erro e que só não era reconhecido publicamente pelo presidente americano, George W. Bush, porque ele está envolvido na campanha para sua reeleição.

De acordo com Garcia, nesse segundo encontro, Lula concentrou a conversa com Kadafi nos negócios e investimentos e evitou mergulhar numa análise mais profunda do cenário político mundial. Ao detalhar a política externa do governo, o presidente ainda tentou convencer o líder líbio que os projetos de infra-estrutura previstos no Plano Plurianual de Investimentos (PPA) de 2004-2007 e as obras relacionadas com a interligação física da América do Sul seriam bons destinos para as injeções de capital da Líbia.

Para tanto, explicou como funcionaria o Parceria Público-Privada (PPP), o programa que prevê garantias governamentais de retorno aos investidores em projetos financeiramente pouco viáveis, segundo o assessor.

Confusão no último dia

Trípoli

(Líbia) – A programação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem na Líbia foi realizada de maneira desorganizada. A cidade foi a última etapa da viagem do presidente ao Oriente Médio. Ele retornou ontem mesmo a Brasília.

Pela manhã, Lula participou de duas cerimônias rápidas. O presidente do Brasil levou flores ao monumento aos mártires da batalha de El-Hani. Foi nesse conflito, em 1969, que o então tenente Muamar Kadafi tomou o poder da Líbia. No entanto, a cerimônia foi presenciada por apenas três soldados.

Em seguida, Lula fez uma parada rápida para conhecer o túmulo do pai do líder líbio. Mas esse passeio não estava no programa nem a delegação brasileira havia sido informada sobre isso. Depois, a comitiva voltou para o hotel.

Ao chegar, foram surpreendidos pela notícia de que o encontro com Kadafi no palácio de Bab-Azyzia havia sido antecipado. O presidente seguiu então para o local. Lula também se encontrou com empresários brasileiros.

À tarde, o presidente participou de reunião no complexo de Bab-Azyzia, sede da residência oficial. Em seguida, Lula se despediu da Líbia, em cerimônia oficial no aeroporto de Meitiga, de onde embarcou com destino a Brasília.

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