Lula: é difícil cumprir promessa

Brasília – Cobrado para priorizar investimentos sociais em detrimento da política monetária, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que propostas de campanha eleitoral não são sempre cumpridas em tempo adequado.

"Todas as vezes que participamos de um processo político, nós geramos dentro de nós todas as expectativas possíveis. Todas as expectativas são sempre altamente positivas", disse Lula em discurso durante congresso da Organização Regional Interamericana de Trabalhadores (Orit).

"E quando você toma posse, você percebe que, para concretizar as expectativas, leva mais tempo do que se imagina, e muitos terminam o mandato sem cumprir as expectativas", acrescentou o presidente. Antes de Lula falar, o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, e o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho, reivindicaram a queda da taxa básica de juros, hoje em 19,25 por cento ao ano. "O senhor, presidente, foi eleito para realizar as mudanças sociais, mas manteve a lógica econômica, manteve a taxa de juros alta. É preciso diminuir a taxa de juros para investir mais nas questões sociais", disse Gonçalves, sendo bastante aplaudido.

Reforma

Lula defendeu a reforma sindical que está em discussão no Congresso e disse que o sindicalismo hoje tem que estar mais conectado com o que acontece nos países e no mundo, e não se limitar apenas a apresentar pauta de reivindicações por melhores salários. Segundo ele, é preciso assumir uma postura mais propositiva. O presidente disse que os sindicalistas atuais têm que ser, inclusive, mais inteligentes e mais propositivos do que ele foi como sindicalista na década de 70, argumentando que naquela época de regime fechado era mais fácil fazer críticas.

Ao rebater afirmação de que a reforma sindical reduz direitos dos trabalhadores, Lula disse que a proposta que está no Congresso "é o resultado que o ventre dos empresários e sindicalistas conseguiu produzir no País".

"Se o papel do sindicalismo é apenas fazer pauta de reivindicação por aumento salarial uma vez por ano e reclamar do governo três vezes por ano, não precisa de sindicato. Isso o povo faz em casa", disse Lula.

AL e África unidas podem mudar o mundo

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem a necessidade de consolidar a união política entre os países da América Latina e da África, de modo que eles tenham mais força no cenário mundial. "É essa relação política que vai fazer com que tenhamos força na hora que quisermos mudar a ONU (Organização das Nações Unidas) e que pode ajudar a mudar a correlação de forças dentro da OMC (Organização Mundial do Comércio)", disse o presidente, na abertura do 16.º Congresso Continental da Confederação Internacional de Organizações Sindicais Livres.

O presidente disse que essa é a razão de ter sido o presidente brasileiro que mais visitou os países latino-americanos e africanos. De acordo com Lula, a mudança de relação entre os países vizinhos foi responsável por tirar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) da pauta de discussões do governo brasileiro. "Faz dois anos que não se discute mais Alca no Brasil", afirmou. Para o presidente, é preciso que os países latino-americanos estabeleçam políticas de complementaridade para acabar com as disputas internas e com a valorização excessiva do que é produzido nos países desenvolvidos.

Lula chamou a atenção para o fato de que 2006 será um ano eleitoral em diversos países da América Latina e que essa será uma oportunidade de se fazer as mudanças necessárias. Ao mesmo tempo, Lula afirmou que as eleições não podem ser a única preocupação dos políticos. "Não se pode pensar nas próximas eleições porque senão você não sai do seu país, não faz política externa e não estabelece um novo padrão de enfrentamento democrático nos fóruns multilaterais", disse.

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