Lula demite Waldomiro, que pedia propina no Rio

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou anteontem à noite o afastamento do subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República, Waldomiro Diniz, homem ligado ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Lula pediu ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, apuração da denúncia de corrupção contra Waldomiro, divulgada ontem pela revista Época.

A Polícia Federal vai investigar o caso e a Promotoria de Tutela Coletiva do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro vai investigar Waldomiro por improbidade administrativa. Os promotores vão apurar detalhes sobre a relação de Diniz com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, quando Waldomiro era presidente da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj). Na época, Cachoeira teria alterado um edital de licitação da Loterj.

Mas Waldomiro caiu do governo Lula porque a revista Época divulgou ontem reportagem que revela gravação de Waldomiro pedindo propina a um bicheiro no Rio de Janeiro, para si mesmo e para campanhas eleitorais do PT. Waldomiro promete beneficiar o bicheiro em uma concorrência pública, em troca. Ele era presidente da Loterj, na ocasião.

Waldomiro confessou à Epoca que levou dinheiro do jogo do bicho para a campanha do PT e entregou R$ 100 mil ao comitê da campanha do então candidato petista ao governo de Brasília, Geraldo Magela. No Rio, Waldomiro negociou contribuições mensais de R$ 150 mil para as candidatas Benedita da Silva e Rosinha Matheus. Ele ainda pediu 1% dos valores negociados para si mesmo.

A denúncia bate em cheio no ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu. Analistas avaliam que uma crise séria foi aberta no governo Lula, e o Planalto sabe que tem que agir rápido. Waldomiro era o homem de confiança de José Dirceu e articulava emendas e projetos no Congresso. O escândalo provavelmente deve enfraquecer Dirceu, considerado uma espécie de gerente do governo Lula. A denúncia surge em um momento em que Dirceu passa por desgaste no Palácio do Planalto, depois de ter rusgas com o ministro Antonio Palocci. Em menos de um ano e meio, uma pessoa próxima a ele está em uma situação complicada. A relação de Waldomiro com o PT começou na CPI do PC. Ele auxiliava o PT a fazer investigações.

Curiosamente, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, se reuniu na noite de anteontem com representantes do Ministério Público Federal para pedir a legalização do jogo do bingo. O porta-voz dos interesses do jogo seria Waldomiro Diniz.

Oposição quer Dirceu fora do cargo

Brasília

– Os senadores Arthur Virgílio e Antero Paes de Barros, além do deputado federal Jutahy Junior, todos do PSDB, pediram ontem uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o “escândalo Waldomiro” e o afastamento temporário do ministro José Dirceu. Além disso, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), assinou o requerimento em que pede ao Ministério da Justiça proteção policial para Waldomiro Diniz.

Em outro requerimento, o parlamentar pede à Mesa Diretora que solicite ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, informações sobre as denúncias envolvendo Waldomiro Diniz. O líder do PSDB no Senado cobrou do governo “explicações convincentes” e exigiu que um interlocutor do Palácio do Planalto seja enviado ao Senado para explicar as denúncias da revista Época. O parlamentar disse que sempre fez oposição leal ao governo Lula por acreditar estar apontado erros de um governo inexperiente, mas que mantinha padrões de ética. Segundo ele, “não é este o caso divulgado pela revista, que envolve representantes centrais do governo”.

O senador do Amazonas disse estar indignado com a o que chamou de promiscuidade entre o assessor do Planalto. “Diante de acusações tão graves, o governo não pode tergiversar. É preciso responder claramente as denúncias de injeção de dinheiro nas campanhas e tráfico de influência”, disse o líder Arthur Virgílio.

O PFL aliou-se ao PSDB nas críticas e no pedido de abertura de CPI para investigar as denúncias contra o assessor do Palácio do Planalto, Waldomiro Diniz. “Minha preocupação é saber quantos ?Waldomiros? estão encarapitados no Palácio do Planalto”, ironizou o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), ao tomar conhecimento das denúncias, publicadas na edição desta semana da revista Época.

Mesmo licenciado e ausente de Brasília, Agripino fez questão de se manifestar por intermédio de sua assessoria de imprensa. Na nota que mandou publicar, ele afirma: “Até explicar esse assunto completamente, que o PT não venha falar em moralidade”, disse. O líder da bancada da minoria, senador Efraim Morais (PFL-PB), conforme a mesma nota, já assinou o requerimento de abertura da CPI destinada a apurar as denúncias. O requerimento foi apresentado pelo senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT).

Senadores estavam de olho atento

Brasília

– Desde junho do ano passado, senadores da oposição estão de olho no ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República Waldomiro Diniz. Ele foi alvo de requerimentos encaminhados ao governo pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), e pelo senador Demóstenes Torres (PFL-GO). Nos dois casos, as respostas foram evasivas, simples negativas, que não abrandaram as suspeitas dos parlamentares sobre a corrupção.

O senador Demóstenes disse que, no início desse mês, recebeu em seu gabinete uma pessoa que relatou detalhes de um esquema negociado pelo ex-subchefe de Assuntos Parlamentares. Segundo o denunciante, na renovação do contrato da Caixa Econômica Federal (CEF) com a empresa Gtech do Brasil, que operacionaliza o sistema de informática das loterias federais, Waldomiro teria negociado um contrato de gaveta que garantiria desviar recursos para altos escalões do PT. “Foi o que ele disse em linhas gerais”, informou o senador.

O desvio se daria mudando o valor do deságio oferecido pela Gtech para renovação do contrato. Em vez de constar oficialmente a redução de 22% do lucro auferido ao mês, como tinha sido proposto no final do governo de Fernando Henrique Cardoso, o valor oficialmente adotado foi de apenas 7%. Os 15% foram negociados por fora. Demóstenes disse que, imediatamente, pediu informações à CEF, por intermédio do Ministério da Fazenda. Mas a resposta só chegou em setembro, em termos completamente aleatórios ao que tinha sido questionado. Ele repetiu as indagações e somente em dezembro é que chegou a seu gabinete um dossiê com cerca de quatro mil páginas sobre o contrato do governo com a Gtech. Desde então, sua assessoria está examinando as informações. “Se for o caso, encaminho os dados para o Ministério Público”, informou.

Já o líder tucano, pediu informações ao governo com base nas informações publicadas na revista IstoÉ do início de julho sobre a participação de Diniz na renovação do contrato com a Gtech e sobre o desvio de recursos de verbas publicitárias da Loterj, no período em que ele presidia a loteria do Rio. O Ministério da Fazenda limitou-se a informar que Diniz não participou da renovação do contrato.

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