Lula dá ultimato: ou reformas ou caos

Recife

– O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem o lançamento do programa Fome Zero no interior de Pernambuco para fazer o seu mais forte pronunciamento a favor das reformas previdenciária e tributária. “Ou nós deixamos as divergências para a época das eleições, ou o Brasil não tem solução”, disse Lula, em seu discurso na principal praça de Buíque (275 km de Recife).

No final de seu pronunciamento, Lula voltou a pedir a união de todos os partidos para a aprovação dos projetos de reforma, que ainda serão encaminhados ao Congresso. Lula citou dois adversários políticos pernambucanos presentes à solenidade, o governador Jarbas Vasconcelos, do PMDB e o prefeito de Recife, João Paulo, para cobrar a união dos políticos. ” Não quero saber de que partido vocês pertencem ou qual a religião que consagram. Não tenho tempo de arrumar inimigos. Quero arrumar mais amigos porque o povo brasileiro está cansado de sofrer.”

Segundo o presidente, as reformas são necessárias e urgentes. “Na vida, o tempo se encarrega de defasar as coisas, precisamos ter competência para mudar. Para fazer as reformas é preciso ter vontade política para enfrentar os que se colocam contra.” Acompanhado pelos ministros Humberto Costa (Saúde), José Graziano da Silva (Segurança Alimentar), Miguel Rosseto (Desenvolvimento Agrário) e Celso Amorim (Relações Exteriores), Lula citou “túmulos de ricos” para denfender a ampliação da reforma agrária no Brasil. “Em muitos cemitérios há túmulos de ricos com mais de duas tarefas só de granito e o coitadinho do lavrador não tem sequer uma tarefa para plantar.”

Na opinião do presidente, “reforma agrária não é tirar miseráveis da cidade para torná-los mais miseráveis no campo”. O presidente citou a sua origem nordestina para dizer que é o político mais capacitado para fazer a reforma agrária no Brasil. “Se eu não fizer nada pelo Nordeste, os outros candidatos que concorreram comigo não fariam nada pelo Nordeste.” Segundo Lula, a fome causada pela seca tem um culpado: a falta de vergonha de quem governou o Brasil nos últimos 500 anos.

Sem fazer promessas, Lula insinuou a possibilidade de realizar a transposição do Rio São Francisco, medida que ajudaria na distribuição de água para o Nordeste. “O projeto de transposição do rio existe desde 1847. Se houver transposição neste País, será no meu governo, pois eu sei o que é a seca.” Em cima do palanque, o presidente Lula ganhou uma cesta de alimentos típicos da região e um artesanato indígena como presente.

Uma cena insólita aconteceu antes de o presidente fazer seu discurso em Buíque. Enquanto cumprimentava os populares e beijava crianças no sítio Jurema, a presença de uma cobra coral assustou o presidente. Ao perceber o réptil, que foi morto após ser pisoteado por seus seguranças, o presidente recuou. No sítio Jurema, Lula entregou um cartão de cadastramento do seguro-safra para o agricultor José Cícero Filho, 50. O seguro vai garantir uma renda mínima de até R$ 465 aos produtores que perderem mais de 50% da safra.

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