Lula clama e Palocci e Dilma selam trégua

Depois de 20 dias de bombardeio, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, estabeleceram uma trégua para a boa convivência no governo. Em reunião realizada na manhã de domingo na casa de Dilma, vizinha de Palocci, os dois lavaram a roupa suja e chegaram à conclusão de que as divergências têm de ser debatidas internamente, e não em público. A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o discurso oficial do governo – fechado ontem na reunião de coordenação política – é de que o superávit primário será de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB) neste e no próximo ano.

Na prática, porém, o superávit – que é a economia de gastos para pagamento dos juros da dívida – já ultrapassou essa meta. Apesar das críticas de Dilma, que sempre defendeu a liberação de verbas para investimentos, o resultado acumulado de janeiro a outubro, divulgado ontem, foi de 5,97% – o que indica a continuidade do arrocho – e deve fechar o ano na casa de 5%.

Num ato falho, o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, acabou admitindo que Lula concorrerá à reeleição em 2006 ao dizer que a polêmica entre Dilma e Palocci é página virada. "As questões de futuro terão momento próprio para serem discutidas e acredito que seja na elaboração do projeto de governo para o segundo mandato", afirmou. "Esta é a hora de governar e se governa com decisões já tomadas. Uma mudança para cima ou para baixo não está em discussão."

Ao chegar para a reunião da coordenação política – a primeira em que Dilma e Palocci apareceram juntos diante do presidente, depois do bate-boca -, Lula não conteve a curiosidade, embora já soubesse o resultado do encontro da véspera entre os dois. "Vocês se acertaram?", perguntou. Com a resposta afirmativa dos dois, o presidente prosseguiu o encontro e avisou que fará uma reunião ministerial na segunda quinzena de dezembro.

Promessas

Foi Lula que pediu aos dois que parassem com o fogo amigo. Na conversa de domingo, Palocci disse a Dilma que não tinha nada de pessoal contra ela. Achava, no entanto, que a colega agia de forma errada ao tornar o embate público e, ainda por cima, num momento em que ele estava vulnerável, acossado por denúncias que, na avaliação dele, têm por trás "interesses políticos".

Dilma respondeu que não queria encostar o ministro contra a parede. Mas foi franca: disse ter a impressão de que muitas vezes ele escondia os números em relação ao superávit primário, com a intenção de fazer uma economia maior. No seu diagnóstico, o resultado desse esforço fiscal é que muitos projetos na área social e de infra-estrutura não saíram do papel.

Durante a conversa, os dois estabeleceram métodos de trabalho: daqui para a frente, um não terá ingerência no território do outro. Essa, ao menos, é a promessa antecipada de Ano Novo.

A Junta Orçamentária – trinca formada por Casa Civil, Fazenda e Planejamento – continuará do mesmo jeito. Palocci queria Dilma fora da Junta, mas cedeu. Ela desejava que o ministro não tivesse controle "exclusivo" sobre a execução financeira do Tesouro, mas também recuou.

"A divergência entre Dilma e Palocci brotou a partir de uma discussão de futuro, sobre o ajuste fiscal de longo prazo", resumiu Jaques Wagner, numa referência à entrevista concedida pela chefe da Casa Civil ao Estado, na qual ela chamava a proposta de "rudimentar". "Como o longo prazo não está em discussão nesse momento, os dois principais auxiliares do presidente chegaram a um entendimento. Sabem que contribuem mais se não houver nenhum tipo de rusga."

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