Lula antecipa programa para acalmar o mercado

São Paulo (Das agências) – O pré-candidato do PT à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva antecipou ontem itens do seu programa econômico de governo. O objetivo é acalmar o mercado financeiro, em ebulição nos últimos dias. Em uma carta dirigida ao povo brasileiro, Lula disse que, se eleito, vai dialogar com toda a sociedade para honrar todos os compromissos do Brasil.

O candidato do PT adotou um tom conciliatório em seu discurso de abertura da Conferência Nacional do Programa de Governo do PT, que discutiu o programa presidencial do partido. “Estamos conscientes da gravidade da crise econômica. Para resolvê-la, o PT está disposto a dialogar com todos os segmentos da sociedade e com o próprio governo, de modo a evitar que a crise se agrave e traga mais aflição ao povo”, disse o candidato petista.

Entre os compromissos assumidos, Lula afirmou que vai preservar o superávit primário, “para impedir que a dívida interna aumente”. Mais uma vez, o petista defendeu, como premissa básica da transição política e econômica que o partido pretende fazer, o respeito aos contratos e obrigações do País. “À parte manobras puramente especulativas, o que há é uma forte preocupação do mercado com o mau desempenho da economia e com sua fragilidade atual. Isso gera temores sobre a capacidade do País administrar sua dívida interna e externa”, disse Lula, ressaltando que é “o enorme endividamento público acumulado no governo FHC que preocupa os investidores”.

Motivos

O discurso conciliatório que Lula adotou ontem foi antecipado em uma semana, devido ao acirramento da crise financeira no Brasil. Segundo o candidato a senador Aloízio Mercadante (PT-SP), esse discurso de Lula seria lido no próximo fim de semana, durante a reunião do diretório que aprovará o programa de governo. Reforçando o discurso de Lula, Mercadante afirmou que “o PT fará o que for preciso, dentro de seu alcance, para evitar que a crise se alastre”.

Mercadante destacou, no entanto, que essa crise se deve “exclusivamente à fragilidade dos fundamentos econômicos criada pelo governo atual”. Ele disse também esperar que o grau dessa crise “encolha esse alarmismo que o governo vem fazendo sobre a questão eleitoral”.

Propostas

Ao ler o documento, Lula disse que é necessário melhorar e aumentar a quantidade de exportações e anunciou a intenção de criar uma Secretaria Extraordinária de Comércio Exterior ligada à Presidência. Segundo ele, o aumento das exportações é a melhor maneira para diminuir a vulnerabilidade externa do Brasil, com a qual poderá reduzir de forma sustentada as taxas de juros e estimular o crescimento econômico.

Ele também ressaltou a necessidade de uma reforma tributária e apontou a volta do crescimento do País como fundamental, para que o Brasil alcance o equilíbrio fiscal. Lula terminou seu pronunciamento dizendo que o Brasil não pode entrar em “uma terceira década perdida”.

Tucano apóia mudança

Gravatá

(AE) – O candidato tucano José Serra considerou correta a mudança de posição do PT em relação ao equilíbrio fiscal e às metas de superávit. “Eu acho bom que o PT agora apóie nossas metas de superávit”, afirmou. “Eu mesmo apresentei, há duas semanas, a proposta de aumento do superávit fiscal e primário.”

Serra lembrou que a proposta recebeu críticas por parte da oposição naquele momento. Para ele, essa mudança não tira da sua candidatura o argumento de ser, na sua avaliação, a que tem mais condição de manter a estabilidade econômica e promover um crescimento rápido e empregos. “A nossa aliança é a mais preparada, tem mais vontade política, mais competência e mais persistência para conseguir isso.”

O candidato tucano fez essas declarações em Gravatá, a 70 quilômetros do Recife, onde, no início da tarde de ontem, visitou o pólo moveleiro da cidade – maior exportador de móveis rústicos do Nordeste – e assistiu à apresentação da quadrilha Puxa-Saco.

PL realiza convenção para ratificar união

Brasília

(AE) – O Partido Liberal (PL) realiza hoje, a partir das 10h, em Brasília, a convenção nacional para aprovar a aliança com o PT e lançar o senador José Alencar (MG) como vice-presidente na chapa de Lula. Ao mesmo tempo, porém, deixará uma brecha para que o PSB entre na aliança e até indique o candidato a vice-presidente. Essa estratégia é feita em acordo com Alencar.

“O senador José Alencar fará de tudo para eleger o Lula. Abre mão de ser o vice, se for melhor para o Lula”, disse o presidente nacional do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP). “Nas negociações para fechar a aliança com o PT, o senador Alencar sempre disse que nunca quis ser vice. Nunca insinuou essa intenção. Nós, o PT e outros partidos é que o chamamos, por considerá-lo o vice ideal”, afirmou. O senador do PL de Minas Gerais tem mais quatro anos de mandato.

Costa Neto afirmou que tem esperanças de que o PSB possa engrossar a coligação do PT com o PL. “Quando fechamos a coligação, houve um golpe muito forte na campanha do candidato Anthony Garotinho (PSB), porque ele perdeu o palanque que lhe poderíamos oferecer. Então, de repente, o PSB pode vir a se juntar à nossa aliança.” O presidente nacional do PL e líder do partido na Câmara contou ainda que o deputado Aldo Rebelo (PC do B – SP) lhe perguntou se Alencar abriria mão da candidatura a vice. “Respondi que o senador nunca lutou pelo cargo. Quero o que for melhor para o Lula”, afirmou.

PT vai adotar duas metas de inflação

São Paulo

(AE) – O candidato a senador Aloízio Mercadante (PT-SP) afirmou ontem que o partido, se eleito, pretende adotar um sistema de metas de inflação com duas bandas: uma estreita e outra larga. A larga seria usada em casos de choque de oferta na economia doméstica.

Segundo Mercadante, ainda não é possível definir uma meta central para inflação num possível governo petista, pois falta mais de seis meses para o início da próxima administração. É a primeira vez que a sigla detalha o uso de bandas no sistema de metas de inflação. De acordo com ele, a idéia da agremiação é que as variações em torno dessa meta central de inflação sejam de 2% para cima ou para baixo, no caso da banda estreita, e de 3%, na larga. A proposta de duas bandas diferentes para o regime de metas inflacionárias é uma idéia do economista Edmar Bacha.

Transição

Mercadante adiantou que o partido votará favoravelmente, na próxima semana, no Congresso, ao aumento da meta de superávit primária de 3,5% para 3,75% para 2003. Ele ressaltou, no entanto, que uma eventual gestão de Lula mudaria as diretrizes da atual política econômica. O que a legenda quer, segundo o candidato do PT a senador por São Paulo, é manter esses instrumentos para uma transição “tranqüila e sem risco à estabilidade dos preços”. “É fundamental que se preserve o que resta da estabilidade neste momento. E, para isso, a manutenção desses instrumentos é necessária”, afirmou.

 

 

Voltar ao topo