Líderes do G-7 dão apoio inédito ao Brasil

Brasil, Grã-Bretanha e Estados Unidos formaram ontem uma aliança inédita, durante a reunião dos ministros das Finanças do G-7, para pressionar os países da União Européia, liderados pela França, que resistem a uma maior abertura de seus mercados agrícolas. O objetivo é tentar flexibilizar a posição do bloco europeu e evitar o fracasso da reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), que será realizada a partir do dia 13 em Hong Kong.

A proposta apresentada quinta-feira pelo presidente Lula ao primeiro-ministro Tony Blair, para que os chefes de Estado intervenham diretamente nas negociações nos próximos dias, eventualmente através de uma reunião emergencial, recebeu um respaldo preliminar de Washington e Londres. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse que a pressão sobre Bruxelas ganhou agora uma nova abordagem. "A Europa começa a se mover, não em conjunto, mas por iniciativa de alguns países importantes como Alemanha e Inglaterra, além dos Estados Unidos", afirmou. "Espero que isso faça com que a União Européia adote uma posição mais avançada."

O ministro das Finanças britânico, Gordon Brown, surpreendeu a delegação brasileira, no encerramento do encontro do G-7, ao convidar Palocci para fazer uma declaração bilateral à imprensa sobre as negociações da OMC. "Tivemos um significativo passo adiante na posição do Brasil, que anunciou que se houver progressos de todas as partes, estará pronto para a oferecer avanços nas suas tarifas industriais e setor de serviços", disse Brown. Ele acrescentou que o representante da Índia também sinalizou melhoras na oferta de acesso ao setor de serviços do país, além de "sinais positivos" da China. "O mundo quer que as negociações em Hong Kong tenham sucesso", acrescentou Brown.

Palocci reiterou, durante a reunião, a posição apresentada nas últimas semanas nas negociações da OMC pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. "O Brasil está disposto a dar um passo à frente nas negociações de tarifas industriais e também a discutir o acesso ao setor de serviços no Brasil, mas desde que a União Européia e os Estados Unidos avancem de maneira substancial em agricultura, cortando tarifas de maneira expressiva, marcando datas para eliminar os subsídios às exportações e também reduzindo o número de seus produtos sensíveis (produtos que continuarão sendo protegidos)", disse Palocci.

Segundo Palocci, a reação americana e britânica à posição brasileira foi muito positiva. "O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, deu forte apoio às declarações do Brasil e outros países, como a Alemanha, Canadá, Índia e Itália, manifestaram apoio", disse. "Mas a França tem uma posição mais serena sobre o assunto."

Previsão de avanço econômico em 2006

Londres – Os ministros das Finanças dos 7 países mais ricos do mundo (G-7) manifestaram otimismo quanto às perspectivas econômicas globais em 2006, apesar da alta do preço do petróleo que inibiu o crescimento este ano. "Todos nós consideramos positiva a perspectiva econômica", disse o ministro das Finanças da França, Thierry Breton.

O Brasil participou do encontro como convidado, além da Rússia, China, Índia, África do Sul, Israel e Autoridade Palestina. Os titulares são Estados Unidos, Grã-Bretanha, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão. Os ministros do Brasil, Índia e África do Sul acabaram discutindo com seus colegas temas ligados à próxima reunião da Organização Mundial do Comércio, em Hong Kong.

Outros temas debatidos na reunião deste fim de semana foram as taxas de juros, a inflação e os desequilíbrios comerciais. Na quinta-feira, o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, anunciou a elevação da taxa básica de juro na União Européia em 0,25 ponto porcentual, para 2,25% ao ano. Ele afirmou que o objetivo da medida é conter o potencial inflacionário. "Queremos mostrar que estamos tentando aumentar a estabilidade e a confiança na UE", disse Trichet.

O ministro das Finanças britânico, Gordon Brown, provocou seu colega francês ao pedir aos países ricos que eliminem os subsídios à agricultura, que somam US$ 280 bilhões por ano. A França tem a agricultura mais subsidiada do mundo. Breton desconversou, ao ser indagado sobre a declaração de Brown. "A agricultura não é o único assunto em pauta", disse.

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