Líderes acertam trégua e adiam a CPI do Bingo

José Cruz / ABr

Reunião dos líderes com o presidente
do Senado, Renan Calheiros.

Brasília – Os líderes partidários reunidos ontem, com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) decidiram suspender, sem prazo, a instalação de novas CPIs, entre elas a dos Bingos. "Fizemos um acordo de lideranças para avaliar a oportunidade de instalação de mais CPIs neste momento", disse a jornalistas o líder do governo Aloizio Mercadante (PT-SP).

A suspensão favorece um acordo tácito entre parlamentares do governo e da oposição, para delimitar o campo de batalha das CPIs que investigam irregularidades no governo Luiz Inácio Lula da Silva e podem alcançar o período do antecessor Fernando Henrique Cardoso. Congressistas do PT e do PSDB sustentam que a abertura de outras quatro CPIs prontas para a instalação poderia comprometer a governabilidade e o funcionamento normal das instituições.

A partir de uma decisão do STF, que na quarta-feira determinou a instalação, no Senado, da CPI dos Bingos, também tornou-se inevitável a instalação de CPIs da Privatização, de irregularidades no Cartão do SUS e das privatizações no setor elétrico (todas sobre o governo FHC). Os líderes no Senado decidiram fazer a indicação dos nomes para essas comissões, mas não marcaram data para sua instalação.

Renan, por sua vez, ressaltou que vai fazer a parte que lhe cabe: "Vou indicar os nomes da CPI dos Bingos, se os líderes não o fizerem, e de qualquer outra CPI que cumprir os preceitos regimentais." A trégua, segundo as fontes, não deve ser explícita. A abertura de novas frentes de investigação, no entanto, contraria parte do PT. O ex-ministro José Dirceu (PT-SP) disse a colegas que esperava investigações sobre o governo Fernando Henrique.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), decidiu apresentar a proposta de congelamento das novas CPIs, até para testar a receptividade entre os demais líderes. Ele disse que o primeiro passo foi "bem-sucedido". No limite, segundo Virgílio, poderia ser instalada também a CPI do Mensalão, na Câmara. O líder argumenta que a CPI dos Correios já vai abarcar, naturalmente, a denúncia do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o suposto pagamento de "mesadas" a deputados da base governista pelo PT.

A delimitação do campo de batalha das CPIs foi objeto de consultas entre parlamentares e líderes do governo e da oposição na noite de quarta-feira, mas nenhum dos lados havia assumido a paternidade da idéia. Mercadante argumentava com a possível inviabilização dos trabalhos no Senado. "Para instalar e fazer funcionar todas as CPIs propostas, seria necessário mobilizar 66 senadores."

Coube ao líder do PSDB verbalizar a proposta em entrevista ao chegar para a reunião no gabinete de Renan. "Temos de nos entender sobre uma agenda de controle da crise, pois nenhum de nós é forte o bastante para querer controlá-la", disse Artur Virgílio, justificando o adiamento da instalação das outras CPIs.

"A crise é grande demais e temos de fazê-la diminuir, com a apuração rigorosa dos fatos, sem inviabilizar a governabilidade do país", acrescentou.

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