Lembo rechaça tese que vincula PT ao PCC

Foto: Arquivo/O Estado

Cláudio Lembo e Lula: governos trocam acusações.

O governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), disse ontem não acreditar que o PT possa estar por trás dos ataques que o PCC vem realizando em todo o Estado. ?Não posso acreditar que o PT está por trás desses ataques?, afirmou, contrariando a declaração dada por seu secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro, de que o PT poderia estar vinculado aos ataques desta facção criminosa.

A afirmação do governador foi feita em entrevista coletiva, após um encontro no Palácio dos Bandeirantes com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). Sem entrar na polêmica das acusações feitas por Saulo, Aécio criticou a politização e o uso eleitoreiro da crise da área de segurança pública em São Paulo. ?Esta é uma coisa de tamanha gravidade que não temos o direito de colocar (os ataques) no patamar da disputa eleitoral. É uma questão que deve ser enfrentada com profissionalismo para que o inimigo seja vencido?, argumentou o tucano.

Questionado se iria repreender o seu subordinado por causa da vinculação que fez do PCC com o PT, Lembo respondeu: ?Ele (Saulo de Castro) já está sendo processado (pelo PT)?. O governador admitiu, porém, que irá conversar com o secretário de Segurança Pública para que episódios como este não se repitam.

O governador de São Paulo aproveitou também para voltar a recusar a oferta de tropas federais para conter a onda de ataques atribuída à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) no Estado. ?Agradeço a solidariedade do presidente Lula com São Paulo, e acho que ele está preocupado com São Paulo e com o Brasil?, disse o governador. Apesar disso, reiterou que o Exército ?é uma tropa nobre, que deve ser preservada para defender a soberania nacional, e não para fazer guarda de muralhas de presídios?.

A proposta de colocar o Exército como guarda de muralhas chegou a ser defendida por alguns candidatos que disputam essas eleições, inclusive o tucano José Serra, que pleiteia o Palácio dos Bandeirantes. Lembo disse também que não se sente pressionado pelo Planalto por conta das inúmeras ofertas de ajuda federal oferecidas por Lula e Thomaz Bastos. ?Só fico constrangido com as pessoas que querem tirar proveito deste episódio?, disse ele sem citar nomes. Indagado sobre quem estaria querendo tirar proveito da situação, emendou: ?leiam nos seus jornais?.

Para o governador paulista, o momento exige tranqüilidade e equilíbrio, porque ?o Brasil e São Paulo não estavam preparados para os ataques do crime organizado?. Lembo afirmou também que a liberdade provisória que os presos terão no Dia dos Pais ?cria uma interrogação?. Apesar do questionamento, ele disse não acreditar em novos ataques.

No 3º dia, bomba falsa pára a Paulista

São Paulo (AE) – No terceiro dia seguido de ataques de bandidos no estado de São Paulo, onze alvos civis e de órgãos do governo foram atingidos, a maioria na capital, onde duas agências bancárias foram incendiadas e um veículo foi destruído na garagem da Secretaria Estadual de Justiça. Um alarme falso de bomba levou a polícia a interditar na noite de terça-feira um trecho da Avenida Paulista, em ambos os sentidos, no trecho entre a Rua da Consolação e a Rua Haddock Lobo, na região dos Jardins. Os policiais detonaram a mala e confirmaram que não havia bomba. A mala, deixada no parapeito do túnel que liga a via à avenida Rebouças, continha somente um tecido e papéis.

Houve casos de bombas também em três cidades do interior – Itu, Sumaré e Campos do Jordão – e dois na Grande São Paulo – Taboão da Serra e Itapecerica da Serra. Um balanço mostrou que ocorreram cerca de 140 ataques, 5 bandidos mortos, e 28 suspeitos presos, além de 40 ônibus queimados.

Justiça contraria Ministério Público e libera indulto do Dia dos Pais

Araçatuba, SP (AE) – A Vara de Execuções não aceitou o pedido do Ministério Público e decidiu liberar 685 detentos do Instituto Penal Agrícola (IPA) de São José do Rio Preto para a saída temporária do Dia dos Pais. O MP havia pedido o cancelamento da saída devido à possibilidade dos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) neste fim de semana.

Com isso, os presos saem na manhã de amanhã com a promessa de voltar na manhã de terça. Os que não voltarem serão considerados fugitivos. Na região Oeste do Estado, mais de 1,3 mil detentos solicitaram o benefício da saída temporária no Dia dos Pais.

O promotor Antônio Baldin, que havia pedido a revogação da saída, não concordou com a decisão do juiz da Vara de Execuções, Zurich Oliva Neto. ?Vejo essa saída com preocupação porque estamos vivendo um momento atípico?, disse. Segundo ele, a revogação seria uma maneira de proteger a sociedade e os próprios detentos. ?O problema é que esta saída vai contra os interesses coletivos, da sociedade?, afirmou. Baldin, no entanto, se disse satisfeito com as precauções tomadas pela polícia, que adotou esquema especial para evitar os atentados.

Num encontro, as polícias Civil e Militar decidiram fiscalizar se os presos vão cumprir mesmo as visitas aos familiares. A intenção da polícia é checar se os detentos vão visitar familiares ou se vão aproveitar a saída para praticar crimes. Durante o indulto do Dia das Mães, um deles matou o dono de uma casa lotérica num assalto em Rio Preto. Outros foram flagrados praticando atentados. ?O problema é que a maioria dos presos vai para casas de parentes na capital, mas os que ficarem aqui estaremos de olho neles?, afirmou o delegado do Departamento de Polícia do Interior 5 (Deinter-5) Antônio Mestre Filho.

Para Lula, fazer uso político dos ataques é ?mau-caratismo?

São Paulo (AE) – O presidente da República e candidato à reeleição pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, rebateu ontem as acusações feitas domingo passado pelo secretário de Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, de que o PT estaria por trás dos ataques realizados pela organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) no Estado. De acordo com o presidente, o secretário paulista, em vez de falar, deveria, de forma mais humilde, perceber que houve uma falha no sistema prisional estadual. ?Eu acho que alguém que exerce o cargo de secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo deveria ser mais sensato na hora de abrir a boca. E, ao invés de tentar acusar quem quer que seja, deveria tentar evitar que essas coisas estivessem acontecendo em São Paulo?, disse Lula.

O presidente classificou como ?mau-caratismo? qualquer atitude de alguém que aproveite estes acontecimentos como fator eleitoral. ?Segundo a imprensa, alguns bandidos estão, de dentro da cadeia, controlando e dando ordens para que aconteça tudo isso. Ele (Saulo) poderia, pelo menos, tirar o telefone celular dos presos. Tem tanta gente em liberdade que não tem telefone celular. Por que o preso tem que ter um telefone celular??, indagou.

Lula mencionou que o presídio federal de Catanduvas (PR) espera a transferência de 40 presos de São Paulo. Segundo ele, é necessário apenas que o Estado peça autorização à Justiça. ?Vamos pegar este Marcola (Marcos Camacho, líder do PCC) e a quadrilha e levar para outros lugares?, sugeriu. O presidente disse que ofereceu ajuda desde os primeiros atentados, em maio, que o governo paulista recusou e que, depois disso, já aconteceram outras ondas de ataques do PCC. Segundo ele, o governo federal não quer promover uma intervenção no Estado. ?Não tem como o governo federal fazer, por conta própria, intervenção. Nós não queremos fazer intervenção e São Paulo não precisa de intervenção, precisa de uma ação conjunta?, destacou.

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