José Dirceu volta a declarar inocência

Já na condição de ex-deputado federal, José Dirceu voltou a declarar sua inocência, ontem, e negou que tenha tentado adiar seu julgamento pelo Plenário da Câmara, que cassou seu mandato na véspera. ?Não adiei meu processo. Quero que vocês parem de falar isso. É uma violência. Vocês um dia vão precisar recorrer ao Judiciário para defender os seus direitos. Parece coisa de direita. Mas a esquerda precisa defender os direitos individuais também. Nunca tive medo de ser julgado pela Câmara. Não temo investigação nem julgamento?, afirmou.

Indagado se acreditava que poderia ser absolvido pela Câmara, Dirceu respondeu: ?Sempre acreditei na minha vitória, evidente, eu sou inocente. E lutei por isso como se estivesse lutando pela minha própria vida. Não começo nada na vida sem ter fé e acreditar. Sempre achei que era difícil passar de 220 votos, mas achei que ia conseguir?. Durante entrevista coletiva, o ex-deputado lamentou a perda do seu mandato e comparou o fato à perda de sua própria vida. ?Não é pouca coisa que eu perdi. Pra mim é como se tivesse perdido minha própria vida. Não pelo cargo, mas pelo simbolismo que tem ser cassado pela Câmara. É uma dor que vocês não podem imaginar. Mas espero ter forças na minha vida para superar isso?.

Cassado por 293 votos, contra 192, 8 abstenções, um voto nulo e um branco, o ex-deputado disse ontem que já cumpriu seu papel e que não espera voltar para a vida política do País. O petista se mostrou bem-humorado, disse que a partir de agora debaterá suas idéias pelo país, escreverá um livro e voltará a trabalhar como advogado, ressaltando que dividirá um escritório com a advogada Lilian Ribeiro. ?Nunca olho para trás e nunca volto ao passado. Eu sempre olho para a frente?, afirmou.

Dirceu declarou ainda ter consciência de que parte da opinião pública o condena. E afirmou que, a partir de agora, vai reconstruir sua vida com humildade. ?Isso vai me custar anos. Tenho consciência disso. Agora eu tenho que trabalhar, é preciso me sustentar. Vou atuar na luta política do País dentro da minha possibilidade, como advogado, como cidadão?. E continuou: ?Não sou mais um homem público, sou um cidadão brasileiro, coisa que eu fui mesmo proibido pela ditadura. Vou continuar fazendo o que sempre fiz, com muita paixão, muita fé. Não tenho mais nada. Não tenho poder nenhum, nem bens materiais. Só tenho convicções, meus sonhos, aquilo que eu acredito?.

Dirceu disse que não pretende recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), apesar de seus advogados ainda analisarem possíveis medidas nesse sentido. ?Não tenho ânimo de ir ao Supremo. Meu ânimo é de trabalhar. Eu não tenho salário, tenho que trabalhar?. Dirceu disse que não vai pedir aposentadoria. Ao ser indagado se pretendia voltar à vida política daqui a oito anos, Dirceu disse que no momento só está pensando em trabalhar para pagar as contas. ?Quem sou eu pra fazer planos pra daqui a oito anos! Deixa a vida me levar, como disse o nosso presidente Zeca Pagodinho – explicando em seguida que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia feito essa afirmação citando o cantor e compositor carioca?.

Indagado sobre seu bom humor, respondeu: ?O que me resta, se não o bom humor??.

No lugar de Dirceu, quem assume o mandato até o fim da atual legislatura é  a deputada Mariângela Duarte (PT-SP).

CUT lamenta cassação de  José Dirceu

São Paulo – A Central Única dos Trabalhadores (CUT) divulgou ontem uma nota oficial lamentando a cassação do mandato do deputado José Dirceu (PT-SP). Segundo a nota da CUT, assinada pelo presidente nacional da entidade, João Felício, que é também membro da direção nacional do PT, a cassação de Dirceu foi "um atropelo à democracia". A nota da CUT diz:

"Submisso à campanha desencadeada por setores da mídia e da direita mais reacionária contra o ex-chefe da Casa Civil e ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, deputado José Dirceu, o Congresso Nacional decidiu ontem à noite pela cassação do seu mandato.

A CUT repudia a transformação do parlamento em tribunal de exceção e conclama sua militância e toda a classe trabalhadora a denunciar esse atropelo à democracia. A verdadeira opinião pública não é a dos donos dos grandes meios de comunicação e do capital especulativo.

Sem o menor resquício de provas, atropelando as mais elementares normas do direito, a campanha difamatória teve por base única e exclusivamente alegações, ilações e mentiras, assacadas contra esse combatente de primeira linha da classe trabalhadora, atacado e condenado pela sua história de luta e compromisso com o Brasil e seu povo.

Ao se submeter covardemente às chantagens e pressões dos setores mais retrógrados da sociedade, a maioria parlamentar que optou pelo servilismo à voz dos donos dos grandes meios de comunicação, relembrou a adoção de outras práticas e posturas lastimáveis, como a rejeição da emenda Dante de Oliveira, que retirou do povo o direito à escolha do seu presidente".

Lula diz que cassação foi injusta

Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou ontem que a Câmara dos Deputados tenha cassado o mandato de deputado do ex-ministro José Dirceu, que, segundo ele, foi condenado sem provas. ?A única coisa que eu lamento é que o José Dirceu tenha sido cassado antes de terem provado alguma coisa contra ele?, disse Lula, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Lula reafirmou que o Congresso Nacional tem soberania para tomar decisões como a que tomou contra o petista, mas disse que a ?história vai se encarregar de dizer se foi certo ou não?.

O presidente afirmou ainda que todos sabem de sua ?relação de amizade e carinho com o Zé Dirceu? e repetiu que os parlamentares poderiam, antes de julgá-lo, ter provado as acusações. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse que considera ?injusta? a cassação de Dirceu. O ministro comentou com jornalistas que, na sua opinião, o julgamento da Câmara foi meramente político e sem fundamento em provas. ?Foi uma cassação, na minha opinião, injusta?, disse Thomaz Bastos. O ex-presidente FHC lamentou o clima de ?anestesia moral? vivido hoje pelos brasileiros, mas disse que a crise envolvendo o PT e o governo não será o mote utilizado pelo PSDB nas próximas eleições.

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